SÃO JOSÉ NA VIDA ESPIRITUAL DE SÃO JOSÉ MARELLO E DA CONGREGAÇÃO POR ELE FUNDADA

SÃO  JOSÉ NA VIDA ESPIRITUAL
DE SÃO  JOSÉ  MARELLO E DA CONGREGAÇÃO POR  ELE FUNDADA

Pe. Ângelo Rainero, osj

A PRÓPRIA SANTIFICAÇÃO
São muitas as formas de vida espiritual, muitas as manei­ras de santificar-se, muitos os métodos e as  vias de perfeição que os santos, à luz do Evangelho, têm percorrido, indicado e ensinado. Todas formas belas e sábias, todas elas úteis e preci­osas: basta seguir fielmente uma das tantas para alcançar, num tempo mais ou menos breve, aquela que deve ser a meta de cada cristão, por que esta é a "vontade de Deus: a própria santificação". (1Ts 4,3).
Uma destas vias é a devoção verdadeira, sincera e perfeita a São José. De fato, escreve o Cartagena numa de suas homilias:
"Não existe modo mais fácil e mais eficaz para obter as graças divinas, do que subir os três degraus desta escada: de José a Maria, de Maria a Jesus e de Jesus ao Pai. Jesus mostra ao Pai as suas feridas. Maria mostra a Jesus o seu seio virginal e José mostra a Maria os seus braços cansados que sustentaram a Ela e a Jesus".
Entre as cartas de José Marello, temos uma datada assim: "25 de março de 1890 - Festa da Anunciação a Maria, e por parti­cipação também a São José, que inconscientemente recebeu de Deus tantas graças em comum com sua esposa, embora igno­rando o grande mistério" (C. 185).
Nestas palavras, colocadas ali como que por acaso, José Marello exprime alguns conceitos altos e profundos, que consti­tuem os princípios básicos da Teologia de São José. Ele afirma em substância que São José foi associado à Virgem Maria no ofício e na missão e por isso na dignidade e na graça; graça de cuja plenitude ele condivide e participa, e cuja plenitude distribui e comunica.
A plenitude da graça está por natureza e essência, em Je­sus, que é graça em si; plenitude de graça está também, por participação imediata e criada, em Maria que o anjo saúda: Ave cheia de graça! Plenitude de graça, por participação criada e de­rivada, está em São José. Ora, essa relativa plenitude de graça que S. José recebe de Deus em comum com sua esposa, em­bora ignorando o grande mistério, ele tem a missão de distribuir a todos os homens e em particular aos seus grandes devotos.


FÓRMULA DE VIDA
O grande teólogo dominicano Pe. Reginaldo Garrigou­Lagrange, escreveu no prefácio do livro "Via da Perfeição": "O. Marello recebeu, como São Luís Maria Grignon de Monfort, o dom de render a alta espiritualidade dos santos, acessível a todos aque­les que têm o coração puro e querem verdadeiramente aprender a não procurar mais a si mesmos, mas somente a Deus".
São Luís Maria tornou acessível a todos os fiéis a alta espiritualidade dos santos mediante o seu tratado da "Verdadeira Devoção a Maria", devoção que todos os santos têm praticado e inculcado, mas da qual ele fez como que uma nova fórmula de vida espiritual; e O. Marello colocou ao alcance de todos os fiéis a alta espiritualidade dos santos por meio da "perfeita devoção a São José", devoção que muitos santos antes dele praticaram e ensinaram, mas da qual ele fez como que uma fórmula de vida espiritual, uma nova via de perfeição, uma espécie de "itinerarium mentis in Oeum" tendo como guia São José.
Na história da Josefologia não é difícil descobrir os traços e os princípios de uma "espiritual idade josefina", seja na conduta, seja nos escritos dos santos e mestres de espírito, como de sim­ples fiéis, a começar do desconhecido operário do séc. V, que gravou num camafeu esta filial invocação a São José: "Ó José, dai-me graça e dirigi a mim e as minhas obras".
ANTIGA TRADIÇÃO
Esta preciosa epígrafe, tão significativa, nos revela como a devoção a São José e a sua influência espiritual na vida dos fiéis não é muito recente, mas se fundamenta na mais antiga tradição cristã.
De fato, já na metade do séc. V, ou seja, na época de ouro da Patrística, São João Crisóstomo expunha os princípios doutrinais sobre São José numa forma precisa e básica para um tratado completo de "josefologia", sem excluir a participação de São José na economia da redenção e na santificação das almas. Isto acontecia no Oriente, enquanto no Ocidente Santo Agostinho colocava as bases teológicas da cooperação de São José na edificação do Corpo Místico, afirmando vigorosa mente a paterni­dade de São José em relação aos fiéis, que são os membros do Corpo, do qual Jesus é a Cabeça.
Mas os Padres da Igreja estavam, infelizmente, empenha­dos numa luta sem tréguas contra as heresias que despontavam em todas as partes e tentavam abater a fé católica, razão pela qual não podiam dedicar-se expressamente em formular, ou ao menos esboçar uma doutrina espiritual em torno de São José.
EXPANSÃO
Vários séculos se passariam até que o dominicano Isidoro Isolani publicasse a sua "Summa de Donis Sancti Joseph" (1522) e escrevesse estas palavras: "O Senhor Deus infundirá a sua luz no íntimo das inteligências e dos corações; Homens eminentes indagarão os dons interiores que Deus escondeu em São José e encontrarão nele tesouros inestimáveis. A riqueza e a abundân­cia de graças espirituais brilharam em sua pessoa de forma tão particular, que não se podem comparar a ele nem os santos da Antiga Lei, nem os da Nova. Bendizei, portanto, ó povos da terra, bendizei São José, para que vós também estejais repletos de bênçãos: pois todo aquele que o bendizer também será bendito".
Outros séculos ainda se passariam até que Santa Tereza de Jesus publicasse a sua "Autobiografia" (1565) e escrevesse no capítulo VI: "Gostaria de persuadir a todos a serem devotos deste glorioso Santo pela grande experiência que tenho, pelos bens que nos obtém de Deus. Não conheço pessoa que seja-lhe verdadeiramente devota e o venere de modo particular que não crescesse depois em virtudes, porque ele favorece muito as al­mas que a ele se recomendam. Há muito, todos os anos, no seu dia, tendo pedido uma graça, sempre a recebi; e se o meu pedido era um pouco torto, ele o endireitava para o meu maior bem ... Quem não encontra um mestre que lhe ensine a orar, tome este glorioso santo por seu guia e não lhe acontecerá mais de errar o caminho".
Um século mais tarde, Madre Maria de Santa Tereza, religi­osa f1amenga (1623-1677) escreveu narrando a sua união com Maria Santíssima: "Parece-me de provar a ajuda e o socorro des­sa amabilíssima mãe do modo que Santa Tereza o provava por parte de São José, quando a sua oração e os exercícios interio­res desviavam um pouco, e São José os fazia de novo caminha­rem direito. Algumas vezes está presente, nesse processo espi­ritual, o amável Pai São José, mas isso não ocorre frequente­mente".
Nessa mesma época, o Pe. Luiz Lallemant, da Companhia de Jesus, um dos maiores mestres de espírito, de grande equilí­brio, quase retomando e aplicando a epígrafe do incógnito operá­rio do séc. V, com o qual parece idealmente reunir-se, ensinava:
"Devemos voltar-nos a São José em nossos empenhos, em nos­sas obras e pedir-lhe instantemente que nos dirija não só interior­mente, mas também exteriormente; tendo certeza que este san­to tem um poder especial para socorrer as almas na via interior e que dele se recebe muita assistência para bem conduzir-se tam­bém no exterior... De fato, nota-se sensivelmente como as almas que o tomam por diretor fazem, sob sua direção, progressos ma­ravilhosos" .
EXPLOSÃO
Contudo, se a devoção a São José nunca cessou de pro­gredir no tempo, foi necessário esperar até a metade do séc. XIX para que sua expansão, lenta mas segura, viesse a culminar numa "explosão"; e isso aconteceu por ocasião do Concílio Vaticano I, com a proclamação de S.José como Patrono da Igreja Universal.
É aqui que entra em campo São José Marello, e é na sua devoção a São José, cultivada e alimentada desde criança, que se constata uma verdadeira "explosão".
De fato, em 17 de março de 1870, ele, sacerdote há dois anos e secretário do Bispo de Asti, estando em Roma para o Concílio Vaticano \, assim escrevia ao colega Pe. Riccio: "Na ante­vigília do nosso patrono e no momento em que a devoção ao chefe da Sagrada Família está por alcançar o seu mais alto de­senvolvimento graças às petições feitas pela cristandade aos Padres do Concílio, eu não posso deixar de escrever duas pala­vras àquele que, entre os tantos co-irmãos homônimos, certa­mente o mais próximo do meu coração... Rezemos pois, juntos, no dia do nosso grande patriarca para que começando a exaltá-Io em nosso coração, nos tornemos dignos de vê-Io exaltado por toda a cristandade com o título que está sendo-lhe preparado como Patrono da Igreja Universal. .. Viva São José com os seus devo­tos!"
Temos aqui, em resumo, toda a devoção de José Marello por São José: devoção interior e exterior, privada e pública, pes­soal e apostólica, capaz de tornar-se fórmula sapientíssima de vida espiritual e arma poderosíssima de apostolado.
DESDE OS MAIS TENROS ANOS
São José Marello foi devoto de São José desde os mais tenros anos. Já o seu nome de batismo, dele era um penhor e um estímulo: penhor de predileção e de atração por parte do grande protetor, estímulo eficaz e incessante por parte do humilde prote­gido.
Desde clérigo não deixava, em seus propósitos de perfei­ção, de invocar, junto com Jesus e Maria, a São José: "De agora em diante quero amar somente a Vós, fonte de todo amor. 'Nunc coepi': Agora começo, meu Jesus, minha Mãe, meu protetor São José; Jesus, Maria, José, nós queremos andar convosco: qual a estrada mais segura?".
São José, que guiara os primeiros passos de Jesus meni­no, também guiará os passos de seu humilde protegido.
Em 21 de janeiro de 1868, próximo à ordenação sacerdo­tal, querendo redigir uma nova regra para o seu progresso espiri­tual, tomava o cuidado de recorrer ao seu grande protetor, escre­vendo no início desta: "Em nome do Senhor Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, sob o patrocínio de Maria, minha Mãe, do seu Santo esposo José, meu protetor ... começo as minhas confissões".
Logo que foi ordenado sacerdote elegeu São José como modelo no exercício do sagrado ministério e exortava o compa­nheiro Pe. José Riccio a fazer o mesmo, escrevendo-lhe na iminência da festa de São José em 1869: "Portanto, sexta-feira é festa de São José, aniversário da primeira recitação do Ofício Divino ... Sexta-feira lembraremos no Santo Sacrifício que nós te­mos o nome de José e que juntos pedimos a proteção de nosso grande homônimo. Ó glorioso patriarca São José, não te esque­ças de nós, que vamos arrastando esta mísera carne em dura terra de exílio. Tu, que depois da Bendita Virgem, apertaste pri­meiramente ao peito a Jesus Redentor, se o nosso modelo em nosso ministério, que como o teu, é ministério de relação íntima com o Verbo Divino. Tu, ó José, ensina-nos, assiste-nos, torna-­nos dignos membros da Sagrada Família".
A este colega de quem gostava porque, como ele, tinha o nome de José, escrevia por ocasião do Concílio Vaticano I, no dia 17 de março de 1870, aquelas palavras que já referimos e que são como que a "explosão" do seu irreprimível amor a São José: "Viva São José e os seus devotos".
Mas se antes da proclamação de São José como patrono da Igreja Universal o Marello já era seu grande devoto, a sua de­voção cresceu excessivamente depois daquele ato tão solene, que se de um lado justificava a sua particular devoção a este grande santo, do outro obrigava o mesmo santo a mostrar ainda mais a sua bondade e o seu poder de intercessão para todos os cristãos, e de modo especial para aqueles que eram seus devo­tos. Era o caso de José Marello.
APOSTOLADO JOSEFINO
O Marello nutria no coração muita estima e devoção a São José, e por isso se esforçava para comunicá-Ia também aos ou­tros, quer nas cartas, quer nas pregações e discursos que fazia.
Mas nem isso parecia ser suficiente o amor que ele nutria a São José e ao conceito altíssimo que tinha dele e de sua devo­ção; por isso começou a pensar numa associação dedicada ao grande Patriarca, onde os seus devotos pudessem recolher-se e, estudando e imitando as suas virtudes, sob a sua proteção e direção, alcançassem a perfeição evangélica e se tornassem verdadeiros discípulos de Jesus Cristo.
Esta associação idealizada por ele tinha no começo uma forma bastante ampla, para poder assim acolher quantos dese­jassem sinceramente promover sob o exemplo e guia de São José, o advento do Reino de Deus nas almas.
Eis como ele apresentava o seu esboço numa carta ao Cônego Penitenciário da Catedral de Asti: "Esboço de uma Com­panhia de São José promotora dos interesses de Jesus: Nenhum vínculo especial entre os companheiros de São José, somente o círculo espiritual da caridade. Cada um toma as próprias inspira­ções de seu modelo São José, que foi o primeiro sobre a terra a cuidar dos interesses de Jesus, ele que o guardou e protegeu quando criança, e que fez as vezes de seu pai nos primeiros trinta anos aqui na terra. Todos podem entrar na Companhia de São José, sendo suficiente ao agregar-se o secreto propósito de ter de comungar seus interesses".
Ele, pois, se esmerava para expor naquela carta de princí­pios sobrenaturais que deviam animar e guiar, no seu apostolado, os "companheiros de São José", e acrescentava esta bela invo­cação ao grande santo: "Ó São José, guarda de Jesus e padroeiro, aceita-nos como companheiros teus no ministério que mereceste cumprir aqui na terra".
A CONGREGAÇÃO DOS OBLATOS DE SÃO JOSÉ
Esta Companhia de São José como ele inicialmente con­cebeu, não teve desenvolvimento talvez por causa da amplidão de deveres imposta aos agregados.
O Marello entendeu logo que precisava estudar e concreti­zar uma forma melhor e mais empenhativa se quisesse alcançar seu intento: não uma união simplesmente ideal e espiritual, não uma simples·agregação, com o secreto propósito de comungar seus interesses, mas uma verdadeira Congregação, na qual os candidatos pudessem conviver segundo uma regra, da qual ele traçava o primeiro esboço: “A quem quiser seguir mais de perto o Divino Mestre na observância dos Conselhos Evangélicos, está aberta a Casa de São José, onde retirando-se com o propósito de viver escondida e silenciosamente operoso na imitação da­quele grande modelo de vida pobre e obscura, terá o modo de fazer-se um verdadeiro discípulo de Jesus".
Esta é a fórmula que precisava e que a Providência aben­çoou enviando ao Marello numerosos discípulos que desejavam seguir os preceitos evangélicos caminhando nas pegadas de São José.
Mais tarde ele escreveu também as regras da Congrega­ção dos Oblatos de São José, nas quais insistia mais sobre o empenho que os candidatos deviam assumir, cultivar e propagar: a devoção a São José. “A Congregação tem o nome deste santo - escrevia ele no primeiro capítulo - porque o escolheu como patrono especial e modelo de vida. Quem abraça a Congregação deve consagrar-se inteiramente a Deus na observância dos seus preceitos e na prática dos conselhos evangélicos, para imitar assim São José, que foi o primeiro modelo de vida religiosa, ten­do continuamente sob os olhos aquele exemplar divino, que o Pai Eterno, por sua misericórdia, quis enviar ao mundo para nos en­sinar o caminho do céu".
“A Congregação tem por Patrono São José, por isso seus membros são chamados Oblatos de São José e se comprome­tem em honrá-Io e amá-Io como pai, imitando suas virtudes e propagando sua devoção. Na imitação de São José, os Oblatos terão especial devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Não se poderia, enfim, imitar São José sem amar e honrar a sua dileta esposa Maria: por isso cada irmão deve ter uma filial confiança em Maria, tendo-a como Mãe e a ela recorrendo em todas as necessidades" .
"Os filhos de São José - escreve ele no capítulo 5 da Regra - devem ser amantes da castidade para imitar o seu grande Patrono São José, que foi lírio puríssimo de castidade. Os assis­tentes devem cuidar de não tratar com familiaridade alguns jo­vens, mas amá-Ios todos da mesma forma, como São José amava o divino menino Jesus".
No capítulo 5 o Marello escreve: “A vida de São José consu­mou-se no trabalho, nos exercícios de piedade, reunindo na ora­ção a vontade de consumar-se na manutenção de Jesus e Maria: assim deverá ser a vida dos Oblatos de São José; uma união de exercícios de piedade, de estudo e de trabalho. Os irmãos, toda quarta-feira, recitarão as dores e alegrias de São José. No culto a São José devem ser pontuais. A nossa Congregação não tem penitências especiais, salvo três jejuns: um na vigília de São José, outro na vigília do Patrocínio do mesmo Santo e o terceiro na vigília da Festa dos Esponsais da Santíssima Virgem".
Aos Oblatos ele intimava: “José significa 'filho que cresce', e os filhos de São José devem crescer também, pelo menos, no culto de seu santo Patrono". Não há melhor meio para crescer no culto a São José que aquele de colocar-se na escola e sob a proteção e direção de São José; por isso o Marello recomendava aos seus discípulos: "Peçamos a São José que seja o nosso diretor espiritual".
E não se cansava de repetir aos seus, com palavras e par­ticularmente com exemplos, aquela devoção a São José da qual ele fez como que uma fórmula de vida espiritual, que podemos resumir como intercessão para ter ajuda, direção e proteção; dedicar-se totalmente a ele para pertencer única e exclusivamente a Jesus.
MODELO E EXEMPLO
Aos seus caros discípulos recomendava sabiamente: "Os trabalhos intelectuais e os manuais sejam sempre considerados como dois meios que conduzem a um mesmo fim: o serviço a Deus na imitação de São José".
A um deles, que não se saía bem nos estudos eclesiásti­cos, escrevia em particular: "Se, à semelhança de São José, servires a Jesus nos trabalhos modestos e inferiores àqueles de São Pedro, pensarás que o humilde servidor de Jesus ocupa no Céu um lugar acima do grande apóstolo".
Falava-Ihes frequentemente da humildade de São José, da sua modéstia e silêncio, do seu escondimento: "São José foi sem­pre tão humilde, a ponto de querer ficar de lado, mantendo-se sempre silencioso e escondido, atribuindo todos os méritos a Maria. Mas, se aos olhos do mundo, ele não contava nada, oh!, como gostava o Senhor de seu humilde e fiel servidor!".
Tomemos por exemplo (numa outra oportunidade) o gran­de São José: "Ele também devia dedicar-se ao trabalho e à ocu­pação exterior para sustentar a Sagrada Família. E só depois po­deria rezar um pouquinho, e aos olhos do mundo não tinha ne­nhuma importância, mas como o Senhor gostava das jornadas belíssimas de São José!".
José Marello insistia na mesma idéia, exortando: “São José encontrou-se, como nós, nas mesmas circunstâncias em sua vida familiar: também ele devia dedicar-se ao trabalho e à ocupa­ção exterior para sustentar a Sagrada Família, e por isso não podia rezar sempre. Ele, porém, praticava as virtudes humilde e tranqüilo, observando em tudo uma perfeita conformidade com a vontade de Deus".
"Devemos imitá-Io sobretudo na prática dessas virtudes ordinárias e comuns que tanto agradam a Deus e tanto ajudam a alma a progredir no caminho do bem".
Ele depois observava oportunamente: "Neste mundo alter­nam-se sempre a alegria e a dor. A vida de São José não foi ela também uma alternativa de consolações e temores? Deus en­cha os nossos corações daquela confiança que sussurrava ao nosso santo Patrono em todos os passos de sua vida".
Ressaltava, sobretudo, a igualdade de espírito de São José, e a perfeita conformidade aos valores divinos: "São José era sem­pre igual a si mesmo, quer quando dava ordens a Jesus, a sabe­doria do Pai, quer quando exercia a sua pobre profissão, ocupan­do-se dos trabalhos mais humildes e grosseiros".
"Não desejava nada, não queria nada, a não ser agradar a Deus; era por isso sempre imperturbável, mesmo nas adversi­dades. Espelhemo-nos neste sublime modelo e aprendamos a manter-nos calmos e serenos em todas as circunstâncias da vida".
MESTRE E INTERCESSOR
Além de modelo e exemplo, São José devia ser para os Oblatos o mestre a consultar e escutar. "São José - escrevia ele nas proximidades do mês de março de 1891 - é sempre o mestre de capela que dá as entonações, embora, às vezes, permita al­guma nota desafinada. Neste seu caro mês, no entanto, quer que todos os acordes fluam juntos e melodiosos, de modo que arre­batem o nosso espírito para onde tudo é harmonia. Este santo Patriarca faz-nos ver que em Belém, depois da horas de abando­no e de silenciosa expectativa, sucederam aquelas das visitas confortadoras entre os cantos do Paraíso. A mim não resta que alegrar-me de ter feito na minha última carta um augúrio agradá­vel ao Senhor: eu disse 'Vamos todos a José!'. E vejo que o San­to não só manteve todos ao seu redor, na sua viagem triunfal ao seu trono, mas viu alargar-se a família de seus devotos e muitos outros filhos como vocês fazer-lhe uma bela coroa de glória. Oh, queira Deus que novos devotos se juntem neste seu mês e ve­nham a ele, como aquelas que foram ao Senhor em Belém; pro­vedor da Sagrada Família saberá muito bem atendê-Ios nas suas necessidades diárias, enquanto não forem conduzidos às portas do céu. Queira Deus que possamos manter-nos dignos de per­tencer a esta família bendita e merecedores de receber das mãos de seu chefe o sustento cotidiano".
Este sustento cotidiano que São José fornece cuidadosa­mente à alma fiel, é efeito sobretudo de ensinamentos espirituais e luzes celestes, de sobrenaturais impulsos e divinas aspirações de graças e dons aptos a dirigir à alma e fazê-Ia avançar rapida­mente nos caminhos da santidade.
Assim afirmava D. Marello com uma expressão bastante enérgica: "Se São José não concedesse graças, não seria mais São José", E explicava: "São José é assim potente junto a Jesus, pelos serviços que ele realizou nesta terra, que Jesus não sabe negar-lhe nada".
Porém a São José é necessário pedir, sobretudo, como exortava o Marello, graças de ordem espiritual. "A São José, di­zia, peçamos a familiaridade com Jesus. Peçamos a São José o santo recolhimento e a união íntima com Deus. Porque pelo fato que São José é aquele que, depois de Maria Santíssima, gozou mais familiaridade e intimidade com Jesus, a ele cabe introduzir as almas à intimidade com Jesus e Maria, e através deles à união íntima com Deus".
SENHOR E PAI
A São José, o Marello recorria com máxima confiança, cer­to de sempre ser atendido, em todas as necessidades, dificulda­des e perigos, seus e de seu Instituto.
Esta confiança recomendava também aos seus Oblatos, que comprazia em chamá-Ios de "os irmãos de São José". As­sim, em circunstâncias críticas para o seu Instituto, exortava:
"Recomendemo-nos ao nosso bom Pai São José, que é o patrono das pessoas aflitas (ele que esteve tão aflito)".
Em ocasião de particulares provas que a Congregação teve que passar, a sua confiança em São José brilhava com luz ainda mais viva e resplandescente, a ponto de comunicar-se também aos seus filhos espirituais, dos quais podia dizer: "Os irmãos de São José estão mais do que nunca tranqüilos sob o manto de seu Protetor, onde os acolheu a Providência Divina".
Passando por experiências angustiantes, ele, com imperturbável serenidade e confiança heróica, exortava numa carta de Ácqüi: "Estejam de bom ânimo sob o paterno manto de São José, lugar de seguríssimo refúgio nas tribulações e nas angústias, também para vosso afeiçoadíssimo José, Bispo".
Pouco depois, ainda escrevia: "Em torno dos irmãos de São José a obscuridade espiritual vai crescendo: obscuridade que quase nos impede até de mover um passo com segurança. Se­jam benditas estas trevas, se forem enviadas pela vontade do Senhor. Caminhemos com confiança na escuridão, pensando que o Senhor nos guarda para que não escorreguemos. Caminhe­mos por passinhos, se não pudermos correr e nem caminhar, mas estaremos de pé. Quando virá a luz? Eis o segredo de Deus. No entanto, São José queira cobrir com sua paternal intercessão seus filhos devotos".
Quando a confiança é impelida assim aos extremos, ela torna-se abandono total e absoluto: e sabemos que segundo D. Marello, "o abandono total à Providência constitui o mais alto grau da perfeição".
Ora, este abandono total à Providência D Marello realizava e queria que se realizasse através de São José, o qual, com seu exemplo e sua intercessão, o facilitaria, valorizaria e aperfeiçoa­ria, numa dedicação recíproca entre protegido e protetor, entre servo e senhor, entre filho e pai.
PERFEITA DEVOÇÃO
Eis o "caminho da perfeição", que em parte experimentou uma Santa Tereza de Jesus, uma Maria de Santa Tereza, um Pe. Lallemant e muitos outros; eis o itinerário da mente em Deus pra­ticado e ensinado pelo Marello, eis o caminho que ele indica a todos e para o qual particularmente convida os seus discípulos, exortando-os a repetir frequentemente com todo o coração esta oração que se pode definir como "a oração da perfeita devoção a São José" e que não podia brotar senão de uma alma "toda de São José": "Diremos, pois, ao nosso grande Patriarca: eis-nos todos para ti e tu sejas tudo para nós. Indica-nos, tu, ó José, o caminho, sustenta-nos a cada passo, conduze-nos onde a Divi­na Providência quer que cheguemos. Seja longo ou breve, bom ou mau o caminho, enxergue-se ou não a meta com a vista hu­mana, devagar ou depressa, contigo, Ó José, estamos certos de caminhar sempre bem".
Como é fácil compreender que estamos no limiar da vida mística, que como se sabe, é principalmente caracterizada por dois elementos: um é o influxo constante e manifesto dos dons do Espírito Santo sob a ação do qual a alma opera de uma ma­neira não mais ativa, mas passiva; o outro é a oração de contem­plação, na qual a alma recebe luz e amor infuso, sem raciocínios e considerações do intelecto, mas com uma simples atenção da mente e da vontade a Deus e às coisas divinas.
Dizemos como o Pe. Lallemant, atenção a Deus e às coi­sas divinas, já que, como ensinaram os mestres de espírito, a contemplação, ao menos nos graus inferiores, pode ter por obje­to também Maria e José com os quais sempre se encontra inseparavelmente Jesus: se Jesus é a porta que conduz ao Pai, Maria e José representam o átrio que introduz a Jesus; e alma pode, com suma felicidade e delícia, passar através das feridas da humanidade de Jesus aos fulgores de sua divindade.
Deveríamos, por isso, fazer como um dos maiores discí­pulos de Santa Tereza, o padre Juan-Maria (1564-1615), do qual escreveu o seu biógrafo: "Tinha tanta devoção a São José, a pon­to de obrigar-se publicamente a trabalhar com todas as suas for­ças para fazê-Io amar sempre mais e a meditar cada dia sobre qualquer uma de suas grandezas. Ó José, exclamava ele em um de seus livros, façamos entre nós este pacto de amor: tu me amarás e velarás sobre mim como uma mãe sobre seus filhos, e eu colocarei nas tuas mãos as chaves do meu coração. Te con­sagro o meu corpo, a minha alma, os meus pensamentos e afe­tos, as minhas palavras, as minhas obras, a fim de que todo o meu ser seja marcado pelo teu amor. Em qualquer lugar onde eu me encontrar, onde eu caminhar, eu pertencerei sempre a ti. Quero que cada batida do meu coração seja uma nova dedicação de todo o meu ser ao teu coração (conf. Pe. Leon de San Joaquin­"EI culto de San José y Ia Ordem dei Carmen", p. 162).
Eis o ideal proposto e realizado por José Marello, a fórmula da verdadeira, da perfeita devoção a São José.

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