Pegadas Marellianas, um Caminho Seguro para a vivência do Carisma Marelliano.

Pegadas Marellianas, um Caminho Seguro para a vivência do Carisma Marelliano.

O Pe. Mário Guinzoni, em seu livro "Pegadas Marellianas", apresenta uma síntese do Carisma Marelliano.


SÃO JOSÉ MARELLO, HOMEM DO SEU TEMPO

SÃO JOSÉ MARELLO, HOMEM DO SEU TEMPOPe. Mário Pasetti. O S J


A segunda metade  do 1800, é caracterizada na Itália, por não poucos acontecimentos e situações de destaque, quer no  civil quer religioso. No campo civil, o destaque é para o “ Risorgimento”, com as suas lutas pela unidade da nação, que  culminaram  com a proclamação do Reino da Itália em 1861, e  depois  na tomada de Roma em 1870, seguida pelos governos da direita histórica e depois da esquerda.  Prevaleceu, neste contexto unitário e pós- unitário, o elemento laicista e  anticlerical, e por isso não demoraram as leis de supressão   e confisco  dos conventos  e dos Benefícios  eclesiásticos; eliminou-se nas escolas a presença do sacerdote e por conseguinte  o ensino religioso;começou o governo a negar ou a conceder em tempos longos o   “Exequatur Régio” para as nomeações eclesiásticas, foram tomadas  as Obras Pias , e  houve tentativa de introduzir o divórcio. Neste contexto  todo,  se acenderam lutas sociais quentes.No campo religioso,   podem ser lembrados estes fatos   de destaque:  a celebração do Concílio Vaticano  Primeiro com a  proclamação  da infalibilidade do Romano Pontífice, e  a sucessiva exaltação  de S. José como Padroeira da Igreja Universal; o surgir de novas Associações em defesa dos interesses  católicos ou interesses de Jesus, enquanto  as antigas  Confrarias decaiam, de forma especial  a Obra dos Congressos;  a fundação de Congregações Religiosas com um espírito  peculiar apostólico;  um novo empenho  pela boa imprensa, a catequese, as obras assistenciais. Além disso tem também a “ Questão Romana”   com a conseqüência, para os católicos, do “ Non Expedit” nas eleições políticas e a vivaz presença ao contrário, nas eleições  administrativas municipais É neste contexto e nestas situações  rapidamente apresentadas, que S. José Marello foi chamado pela Providência a viver  a sua breve mas intensa vida. O seguiremos nesta caminhada, procurando captar o significado e o valor de sua presença. Vê-lo agir e  se movimentar no seu tempo, poderá quem sabe,  sob certos aspectos, ser  até uma  alegre descoberta.

SÃO JOSÉ NA VIDA ESPIRITUAL DE SÃO JOSÉ MARELLO E DA CONGREGAÇÃO POR ELE FUNDADA

SÃO  JOSÉ NA VIDA ESPIRITUAL
DE SÃO  JOSÉ  MARELLO E DA CONGREGAÇÃO POR  ELE FUNDADA

Pe. Ângelo Rainero, osj

A PRÓPRIA SANTIFICAÇÃO
São muitas as formas de vida espiritual, muitas as manei­ras de santificar-se, muitos os métodos e as  vias de perfeição que os santos, à luz do Evangelho, têm percorrido, indicado e ensinado. Todas formas belas e sábias, todas elas úteis e preci­osas: basta seguir fielmente uma das tantas para alcançar, num tempo mais ou menos breve, aquela que deve ser a meta de cada cristão, por que esta é a "vontade de Deus: a própria santificação". (1Ts 4,3).
Uma destas vias é a devoção verdadeira, sincera e perfeita a São José. De fato, escreve o Cartagena numa de suas homilias:
"Não existe modo mais fácil e mais eficaz para obter as graças divinas, do que subir os três degraus desta escada: de José a Maria, de Maria a Jesus e de Jesus ao Pai. Jesus mostra ao Pai as suas feridas. Maria mostra a Jesus o seu seio virginal e José mostra a Maria os seus braços cansados que sustentaram a Ela e a Jesus".
Entre as cartas de José Marello, temos uma datada assim: "25 de março de 1890 - Festa da Anunciação a Maria, e por parti­cipação também a São José, que inconscientemente recebeu de Deus tantas graças em comum com sua esposa, embora igno­rando o grande mistério" (C. 185).
Nestas palavras, colocadas ali como que por acaso, José Marello exprime alguns conceitos altos e profundos, que consti­tuem os princípios básicos da Teologia de São José. Ele afirma em substância que São José foi associado à Virgem Maria no ofício e na missão e por isso na dignidade e na graça; graça de cuja plenitude ele condivide e participa, e cuja plenitude distribui e comunica.
A plenitude da graça está por natureza e essência, em Je­sus, que é graça em si; plenitude de graça está também, por participação imediata e criada, em Maria que o anjo saúda: Ave cheia de graça! Plenitude de graça, por participação criada e de­rivada, está em São José. Ora, essa relativa plenitude de graça que S. José recebe de Deus em comum com sua esposa, em­bora ignorando o grande mistério, ele tem a missão de distribuir a todos os homens e em particular aos seus grandes devotos.

VIDA EM CRISTO DE SÃO JOSÉ MARELLO (Segunda Parte)

VIDA EM CRISTO DE SÃO JOSÉ MARELLO  (II)

                                  

            Pe. Fiorenzo Cavallaro, OSJ



            4. O AMOR EMPÁTICO DO MARELLO

Jesus acolhia a todos e todos podiam aproximar deles. No Evangelho  o vemos sempre cercado, e aceitava sempre também a multidão. Saia estar com todos, como sabia escolher tempos de solidão para a oração. Estava sempre a disposição, sabia fazer-se entender, porque  falava com palavras simples; por isso todos os entendiam, o admiravam, e ficavam maravilhado dele. Aceitava também as disputas, nas quais se saia sempre vencedor; era sincero, reto, inflamado contra a hipocrisia. A nenhum, antes de encontrá-lo tinha pedido de preparar-se. Escolheu os apóstolos assim como eles eram, depois os transformou com amor e paciência.
São José Marello, amigo sincero desde a sua juventude,  esteve sempre a disposição de todos. Cuidou das amizades, sustentou, encorajou, ajudou com orações e sábios conselhos. Teve relacionamentos na cordialidade, na verdade, na bondade, na caridade, na acolhida, na descrição.  Foi um homem empático, ou seja, aberto, sensível, cordial, gentil, hospitaleiro, acolhedor, respeitoso, muito compreensivo. Ajudou, sobretudo, seus filhos espirituais, a permanecerem fiéis a Deus. Na direção espiritual não colocou as pessoas a serviço dos seus interesses ou visões pessoais. Propunha na liberdade, acompanhava “dentro do coração das pessoas”, estimulava continuamente, incentivava as pessoas, as ajudava a descobrir os projetos de Deus a sua vontade. Fazia isto com sabedoria, prudência e competência, sem manipular ninguém, mas na humildade. Teve cuidado para com fracos e com os pobres. Perto deles, esteve a vontade, dizia à Irmã Albertina Fasolis em 9 de fevereiro de 1887: “Quando somos louvados, fazer como quando nos oferecem flores com perfume muito fortes; não se rejeita, mas não se cheira”. E noutra ocasião não datada: “Quando somos louvados, dar uma risada e pensar que o Senhor vê no íntimo”. Pregando em Santa Chiara no domingo 13 de janeiro de 1889, dizia a propósito da humildade de Maria: “Sejamos sempre inimigos das honras, dos louvores, das lisonjas do mundo; deixemos que os mundanos entre eles se elevem, façam reverências, sejam coroados... nós contentemo-nos daquela estima mútua que temos um para com os outros e da bela caridade que todo nos une em estreito vínculo do divino amor e que nos deverá reunir todos, um dia, no céu”. Fugiu dos louvores, das adulações e das honras. Era enfim, um homem livre interiormente e exteriormente. Emanava um fascínio que atraia e amansava também as pessoas mais difíceis.
Dotado de uma compreensão inteligente sobre a cada problema e situação, compassivo para cada sofrimento e dificuldade alheia na qual sabia calar-se, por isso sensível e aberto, nos seus Escritos encontramos contínuos apelos, que espelham pelas suas atitudes e disposições melhores, à afabilidade, alegria,  amor, flexibilidade, benevolência, calma, compaixão, compreensão, condescendência, doçura, generosidade, gratidão, jubilo, mansidão, paciência, brandura, reconhecimento, desvelo.
Tinha facilidade para todas estas qualidades, porque tinha um caráter secundário: todo o acontecimento agradável ou não, tinha uma longa ressonância no seu coração. Tudo isto, era também o fruto de uma longa luta interior, porque se tendo também forte a guia a regra e da razão, que para ele eram princípios fundamentais, tinha o perigo de se tornar severo e duro, impulsivo, susceptível,  intolerante, por causa  do exercício exasperado da sua autoridade. Muitas e bem evidentes eram então as suas qualidades, que inculcava também na pregação e na direção espiritual. Os atos produzidos pelas suas qualidades e que abrilhantavam a sua alma era os frutos do Espírito Santo da vida do Marello segundo o Espírito.
Experimentamos ler e a meditar a pregação feita em Santa Chiara em domingo 20 de janeiro de 1889 sobre as Bodas de Cana (Jo 2,1-11) (Escritos – diário de Bice Graglia). Emerge toda a riqueza de sua alma e de seu coração.Não é uma lição de boas maneiras, mas de humanidade, de vida interior, de tudo o que o Espírito Santo consegue realizar com a colaboração do cristão. A homilia do Marello é uma página de riqueza humana e cristã, de tudo o que a alma de Maria podia ser, e que com alegria participa com Jesus a felicidades dos dois novos esposos, e ao mesmo tempo como está sempre pronta com Jesus a participar das aflições, e as dores de quem sofre. Maria se demonstra atenta, sensível, discreta, compreensiva, solícita, solidária, empática. Jesus e Maria participam das núpcias não com seriedade, austeridade e rigidez, como se fosse esta as qualidades da santidade,  mas com afabilidade e doçura, com doce caridade. Adapta-se aos gostos dos outros, participa da alegria dos convidados, diz o Marello, atentos a não colocá-los em dificuldades.
Admira a preocupação de Maria que sensível observa atentamente que todos os hospedes sejam servidos e que nada falta a ninguém. É atenção amorosa de Maria, imagem do cuidado espiritual que tem por nós, da atenção de quem segue continuamente as nossas almas. Pronta a enxergar as nossas necessidades para prover em tempo. A bondade de Maria é afável, discreta, condescendente. Aceita os gostos, a vontade alheia, participa na alegria, se alegra do banquete. A sua não é uma bondade exclusiva, dura, indiscreta, aquela mesma daqueles que queriam todos feitos sob medida deles, e não sabem adaptar-se aquilo que outros fazem ou dizem, fazendo pender a balança para a intolerância. A verdadeira santidade é doce, maleável, universal, variada.
Todavia Maria pessoa fina e delicada observadora, percebe que o vinho está acabando. Preocupada pelo embaraço dos esposos e querendo poupar eles de um mau momento, torna presente a Jesus a dificuldade. Maria não hesita pedir a Jesus um milagre bem sabendo que só serviria para contentar a gula dos convidados. Demonstra sábia. É preocupada de fato, unicamente pela confusão em que se encontram os esposos. Preocupa-se em ajudá-los e pede a Jesus um ato de sua onipotência. Expõe a necessidade dos esposos, não pede o milagre. É o que nós temos que fazer: Expor somente as nossas necessidades e misérias, deixando depois a Ele, agir como melhor achar para o nosso bem. Jesus lhe responde dizendo que ainda não tinha chegado à hora de fazer os milagres e revelar-se. Maria conhecendo bem o coração de Jesus convida os servos a se colocar às ordens dele. Estes obedecem e levam para a mesa um vinho gostoso e generoso. Jesus realiza o milagre com a ajuda dos servos. Está disposto a ajudá-los, mas quer que também a nossa reta intenção e o esforço em praticar a virtude. Jesus é respeitoso porque seria demais humilhante para nós se ele fizesse tudo e só fossemos robô, ou fossemos máquinas. Jesus quer santificar-nos com a nossa participação. Não quer forjar-nos sobre um único modelo. Cada um deve santificar-se segundo o próprio temperamento e caráter, segundo a índole natural particular; cada um no seu dever do próprio estado de vida seguindo impulso interior.
Para alcançar a santidade não precisa violentar os caráteres. Jesus nos deixa a plena liberdade de natureza. Qualquer que seja a índole ou caráter, cada um se santifica seguindo docilmente e com simplicidade as divinas inspirações. Como Jesus ordenou, de encher os jarros de água limpa que depois mudou em vinho, assim quer encher os nossos corações de água limpa e bons pensamentos, de retas intenções, para mudar de um vinho generoso a uma caridade ardente. Estes são os pensamentos de São José Marello.
Significativa também e eficaz é a pregação feita, sempre em Santa Chiara no domingo de Paixão, 07 de abril 1889. Guia e Mestra é Maria Santíssima, a Desolada a Rainha dos Mártires. A Igreja deseja diz o nosso Fundador, que consideremos o coração de Maria, espelho resplandecente no qual se reflete todos os afetos e todas as dores de Jesus. Maria é co-redentora junto a Jesus, coopera a nossa Redenção. Suavemente associada à Obra de Jesus, reúne no seu coração todas as dores de Jesus, as faz suas as dores, toma como que posse delas. Também nós diz o Marello, contemplando Maria, sabemos que devemos passar no meio de espinhos para alcançar o Paraíso.
Do Marello imagina e recria a cena do Calvário, contempla Maria aos pés da cruz, entre ano seu coração e procura descobrir os seus sentimentos. Maria amava Jesus e sofre em não poder tomar sobre si as dores do Filho. O ver sofrer sem poder minimamente aliviar a sua dor. Podemos imaginar o sofrimento deste coração sensibilíssimo de Maria, porque conhecia, por meio do velho Simeão, tudo o que o Filho teria que sofrer. Por isso, perto da cruz a imensa dor a absorve toda,  tornando-a como uma estátua de dor. Não devia dar a sua vida, ainda que a teria dado com alegria,  mas devia imolar a vida do Filho Jesus, onde se concentrava todo o seu amor e toda a sua vida, a amabilidade em pessoa o Santo de Deus. O contempla moribundo, e concentra em si todas as dores. O seu coração sangra dolorosamente e agoniza com Ele. Jesus vê o sofrimento de sua Mãe e, se dirigindo a João,  oferece à Mãe o Apóstolo como Filho  no seu lugar, para que não foque sozinha, sem  filhos. João ocupará o lugar de Jesus, primogênito de tantos filhos adotivos, redimidos e resgatados. Maria compreende a altura da missão materna que Jesus lhe confia, aperta seu peito todas as pessoas redimidas e dirige para João um doce olhar de amor maternal. Deus quis o consentimento de Maria quando devia tornar-se a Mãe de Jesus, o requer ainda na sua imolação. Maria nos acolheu a todos, nos amou com ardor e intensidade.
São José Marello ama Maria de forma especial aos pés da cruz de Jesus, porque ali ela manifesta todo o seu amor, a sua bondade, sua misericórdia, a sua compaixão com a humanidade. Ali está disposto abrir-lhe o coração com maior confiança, a manifestar os sofrimentos e as dúvidas, as apreensões. Ali Maria está pronta a abrandar as nossas dores, a levantar-nos e confortar-nos, a consolar-nos. Maria é Mãe amorosa perto dos filhos moribundos, guia, sustento das almas fracas, conselheira dos que duvidam. Sabe doar-se a todos porque Jesus a deixou para nós em testamento. À  imitação de João, diz o Marello, fiquemos sempre bem unidos a Maria, nossa dulcíssima Mãe, a Ela devotos e fiéis, escutamos, tornando-a Rainha dos nossos corações. Se estivermos muitas vezes em companhia de Maria e João aos pés da cruz,  se voltarmos muitas vezes a contemplar aquela cena de amor, a considerá-la com atenção, do Marello tem certeza que Maria nos acompanhará na vida, nos assistirá na morte, e nos introduzirá na total posse de Deus. Perguntamo-nos: - Tudo isto é possível? Para o Marello a resposta é positiva, afirmativa. Nestes sentimentos e atitudes interiores consiste o caráter do Evangelho, a força profética e subversiva do discurso da Montanha. Nessas atitudes,  tem aceitação dos princípios enunciados por Jesus, a concreta adesão da vida. Nas palavras do Marello a caridade se torna vida, comportamento concreto na variedade dos sentimentos e das situações humanas, a partir de Cristo e de que lhe esteve mais perto. Jesus e Maria  mostra que a nossa existência e a dos outros deve ser tomada seriamente. É a nova vida de Cristo, cheia de caridade na suas múltiplas facetas.
Nesta nova vida o nosso Fundador foi capaz, pela ação do Espírito Santo, de unir todas as capacidades na caridade: a respeitar, a honrar, a amar as pessoas com ternura, até os sentimentos mais íntimos e diferentes. Agindo assim experimentava a renovação, “o homem novo”, a novidade da vida em Cristo. Nesta direção o Marello sabe gastar toda a existência, a conformação a Cristo, a possibilidade dada a Cristo de revelar-se, de exprimir-se ricamente dentro dele. Ninguém está excluído. Mas esta sua audácia amadureceu na fé. Um caminho de fé que comporta um início e um progresso, que conhece quedas e ressurreições, avanços e recuos. É um relacionamento que realizou gradativamente no decurso de sua vida, pois de outro jeito os seus filhos espirituais teriam desanimado. A perfeição é um caminho o movimento que indica uma aproximação progressiva,  uma ação do Espírito Santo. Digamos que é uma possibilidade bela e grandiosa que Jesus oferece, e que nos Escritos do Marello aparece sob o mais variados aspectos. Olhando estes aspectos o seu conjunto como forças combinadas, como cores e sons nas mãos do artista, podemos contemplar uma obra prima: a imagem de Cristo. Dom Marello caminhou nas sendas do amor com entusiasmo e audaciosa paciência.  Isto foi possível a ele porque radicado na sua fé, na esperança, na caridade, na verdade, na oração. A fé em Deus Amor e no  homem, ainda que deturpado, foi para ele uma força secreta para alcançar os altos cumes do amor, mesmo sentindo-se frágil e fraco. Foi-lhe possível a experiência de amor porque se revestiu de Jesus Cristo (Ef 4,24), passou a vida revestindo-se de Cristo fazendo seu o modelo seu que é Cristo. Leiamos novamente com atenção e calma os conselhos que ele deu à Irmã Albertina Fasolis nos anos 1881 a 1889 e veremos que transborda humanidade, valores profundamente humanos; neles têm “um homem realizado”. Nosso Fundador queria de si e dos seus filhos espirituais um coração generoso, grande, cheio de doçura, digamos “empático”, procurou ter os seus sentimentos, ser eco das suas palavras, preferindo àqueles que Cristo preferiu, a semear os seus gestos no mundo. Utilizando as palavras de Paulo, em Cristo o Marello existia, se movia e respirava (At 17,28). Ele foi luz, calor e força aos outros, com sua presença. O amor verdadeiro do Marello, é impensável sem Cristo, sem a Páscoa, isto é  sem a cruz e ressurreição, sem a morte e a vida. O confirma a experiência de Maria aos pés da cruz.  Daquela dor Ela e o seu Filho trouxeram luz e salvação.
Toda a lição que vem de Maria, nas Núpcias de Cana e perto da cruz, em termos psicológicos modernos chama-se “empatia”, atitude que o Marello procurou fazer sua. É consciência do que é uma outra pessoa, capacidade de pôr-se no lugar da outra pessoa. Também nas mesmas correções São José Marello se esforçava para ser empático: “quando devemos corrigir alguém, por-se no lugar de quem a deve receber, comportar-se como irmão, mas do que superior; falar mais da virtude do que do vício” (Escritos - Conselhos a Ir. Albertina Fasolis). “Antes de falar avaliar bem as palavras e considerar o efeito que pode produzir. Pedir a Maria Santíssima a graça de um coração maternal. Ass mães não usam muito a superioridade, mas um grande coração. Quem é o superior deve ter um coração maternal, para com os seus dependentes; as mães costumam experimentar os remédios antes de dá-los  as crianças, e assim os bons superiores antes de fazer  uma correção devem pôr-se no lugar dos outros, e considerar bem qual efeito produziria sobre eles; deve o superior ser manso, doce, mais do que rigoroso e severo”. (Escritos – Conselhos a Ir. Albertina Fasolis).
A empatia é a mais profunda da simpatia, pois esta olha mais o aspecto superficial do relacionamento. É co-participação, compaixão, ou seja, participação à experiência dos outros. É a lição que o santo aprende do Evangelho. De ser como Jesus desceu na direção da humanidade.
Dom Marello quando jovem, queria: fama, prestígio, glória, honra, carreira, afirmação, bens, poder, egoísmo, ambição. Jesus far-lhe-á uma proposta ao contrário: Viver, revelar o amor de Deus. Assim inicia a sua caminhada, tecendo os seus dias normais, densos de amor. Como Jesus encontrou as pessoas, especialmente os doentes, os pobres, os pecadores. O Marello “sentiu” o coração de Cristo. Esta foi a sua dedicação, responsabilidade, evangelização, santidade.
A pessoa empática é livre e muito próxima; pensa em agir nas direções das pessoas que ama. Preocupa-se com aquilo que a outra pessoa diz, vive, sente e pode. Hoje fala-se muito de tolerância, mas a empatia vai além até mesmo da cordialidade. Não é fácil fazer próprios os olhos dos outros, compreender as exigências dos outros, como Maria  em Cana da Galiléia e aos pés da cruz. Isto não quer dizer compartilhar os pensamentos e as opiniões dos outros,  renunciando ao modo pessoal de ver e de julgar, mas simplesmente aceitar, acolher a pessoa, compreendê-la na sua situação, compartilhar a sua interioridade, sem preconceitos, sem filtrá-la pessoalmente. Empatia é mergulho na outra pessoa. A isto segue a ajuda oferecida da direção do verdadeiro conhecimento de si e do crescimento. Precisa confiança nas possibilidades da outra pessoa, na liberdade, comunicação que traz para fora aquilo eu está dentro: alegrias, sofrimentos, dúvidas, medos, ideais, valores. A pessoa empática sabe fazer contato.  O Marello foi uma pessoa empática no dizer de todos, mesmo que ninguém utilizou este termo da psicologia.  Foi um verdadeiro amigo, um confessor e diretor espiritual precioso. Por quê? Porque soube amar, viveu à disposição sempre dos outros  e sempre com a intenção de ajudá-los,  como iniciou a fazer com os amigos do seminário, que eram queridos para ele, importantes, merecedores de estima. Seja durante a vida de seminário, seja depois entre os sacerdotes, o povo, os Oblatos, a sua presença foi viva, ardente, amável, dava vida!
Encanta um aspecto que emerge, sobretudo nas Cartas Juvenis dos primeiros anos de sacerdócio: tinha um verdadeiro e vivo interesse pelo mundo interior dos outros, sem algum proveito próprio.  Com os Oblatos o relacionamento era especialíssimo: muito próximo, enriquecedor, íntimo. Em data de 03 de fevereiro de 1889 antes de partir para Roma falando do vínculo da caridade em particular da Comunhão, diz: “Os irmãos estão reunidos por vínculos estreitos porque nas veias deles corre o mesmo sangue, tendo em comum o pai, a mãe, a família, a casa, a mesa, mas estes são somente vínculos materiais. Nós, porém somos unidos por vínculos mais estreitos ainda, sendo o nosso vínculo de união sobrenatural e divino: Jesus. Na santa Comunhão Jesus nos faz todos irmãos no seu preciocissimo sangue que comunica contemporaneamente a cada um de nós nutrindo-nos todos do seu mesmo corpo.  Deveríamos por isso ter em comum as alegrias e as dores, as esperanças e as aspirações, viver todos num só coração e numa só alma: a alma de Jesus. Nós ainda somos ainda mais estreitamente unidos porque temos o vínculo da vida em comum numa só família espiritual”. (Escritos – Diário de Bice Graglia) Agradecendo os votos onomásticos, assim escrevia a Dom Cortona de Acqui em 20 de março de 1891: “Chegaram a mim em ocasião do meu onomástico muitas promessas de orações e de ajuda espiritual. Destas ofertas caridosas creio que seja partícipes os queridos Oblatos como de uma riqueza a qual eles tem direito.Do mesmo jeito que eu comunico tudo que está em mim os filhos de São José me comunicarão tudo o que está neles; e cada um poderá dizer: omnia mea vestra sunt et vestra mea ( tudo que é meu é vosso e tudo que é vosso é meu) segundo o voto de Jesus, que os seus discípulos  sint consummati in unum”( para que sejam um).
Como confessor e diretor espiritual educou à empatia. Basta ler todos os ensinamentos sobre o amor, caridade, mansidão, doçura, humildade e outras virtudes que dão o jeito humano e cristão às múltiplas relações de cada dia. A experiência nos diz que as relações quotidianas com os outros não são fáceis, mas exigem um grande empenho, e muita carga interior. Então, nem ao Marello era fácil educar a empatia como comportamento habitual, a ponto de se tornar costume, virtudes. Sabemos que o diálogo é uma necessidade da pessoa e é um caminho aberto à empatia. Mas, não é fácil dialogar, porque não é fácil acolher e compreender uma pessoa, penetrar na sua experiência, nas suas dificuldades, nos seus sentimentos, antes ainda de pensar qual ajuda oferecer ou de pensar a qualquer tipo de avaliação.
Era sabedor que a pessoa muda por dentro, tomando consciência do positivo que ele tem e das riquezas dos outros, educando-se e educando à “hospitalidade”.


5. A REALIZAÇÃO

 São José Marello foi uma pessoa atenta, silenciosa, recolhida, para captar o sinal de Deus, à vontade de Deus, também por meio de São José. Como sempre de um acontecimento particular sabe extrair para os seus filhos um ensinamento profundo de vida espiritual, e mesmo de longe, continua formando, exercitando a sua paternidade. “A obra, as dívidas, a Providência!!! três palavras de grande significado que trazem à mente as três grandes considerações nem sempre em perfeita harmonia entre elas. A primeira  e a última com um reforço da fé,  de certa forma conseguimos juntá-las, mas aquela do meio muitas vezes não tem jeito de fazê-la entrar no eixo. Vamos resumir. Se o trabalho projetado não absorve que poucas mil liras, avante. Mas se ao contrário, na ponta do lápis, aparece uma quantia pouco menor da herança Gaspardone, paremos um instante e esperamos que São José nos faça sentir a sua voz. Nós estamos no seu lindo mês; Pe. Cortona prega as suas glórias: os irmãos de toda a casa invocam com corações unidos a sua proteção: Ir. Estevão lhe oferece em homenagem as suas tribulações e Ir. Máximo, se Ele em nome de Deus o pede, também o sacrifício – doloroso  e ao mesmo tempo glorioso – da sua vida. Digamos ao nosso grande Patriarca: Eis-nos todos para ti, e tu sejas todo para nós”. “Indica-nos, José, o caminho, sustenta-nos a cada passo, conduze-nos para onde a Divina Providência quer que cheguemos”.“Seja comprido ou curto, bom ou mau o caminho, enxergue-se ou não a meta com a vista humana, devagar ou depressa, contigo José, estamos certos de que sempre caminhamos bem”. (C 208). Procurou sempre esta vontade, em cada situação, em particular no ato da fundação da Congregação, e respondeu abandonando-se nela como uma criança  pertinho dos pais ou nos braços da mãe (C 23). Podemos afirmar que literalmente repousou nos braços da Previdência continuamente invocada e nos braços da vontade de Deus atento ao “sinal”, “à voz” levou a termo fielmente o que o Senhor lhe pediu do Santuário da Misericórdia de Savona, ao Santuário da Misericórdia de Savona.
  Pregando os Exercícios espirituais às Irmãs do Instituto Milliavacca, exclamava: “Como o Senhor foi obediente”. E depois se dirigindo a São José: “Tu, ó São José que foste tão humilde e tivesse a sorte de viver em companhia de Jesus, observando tudo aquilo que Ele fazia fala ao coração e faz-me aprender tudo da vida de Jesus tão santa e tão por ti limitada”. Ideal claro, programa de perfeição também claro, estratégias, tempos e meios escolhidos com sagacidade na oração, no exame de consciência, na confissão, na direção espiritual e nos conselhos. Percebemos tudo isto claramente na sua vida: depois da crise abre-se a inteligência, já capaz de análise e síntese; a fé se torna pessoal e interior, e Cristo torna-se a sua lei moral o seu ideal e modelo. Vive estes valores, seja como estudante como sacerdote, em amizades escolhidas, cresce aberto à Igreja, ao social, com um jeito de se expressar por vezes radical e militar, corajoso. Sobre, reza, ama, medita, controla-se, faz-projetos, observa, admira, exalta-se, se deixa guiar. Já adulto abre-se a todos os problemas da Igreja e da sociedade. Sente e vive os problemas, para os quais oferece a vida no silêncio, na humildade, na caridade de Cristo. É o projeto Oblato no estilo de São José. Não percebemos nos Escritos dúvidas, re-pensamentos, saudades, como volta do passado, ou como fraqueza psicológica. A sua personalidade era marcada pelo e  no relacionamento com Cristo. Também do Marello podemos dizer que era em Cristo e Cristo era nele (Rm 8,15; 2Cor 5,17; Gl 2,20): “As pessoas do mundo fazem votos de muitos anos de vida:o nosso augurio seja aquele de viver em Jesus Cristo, sim, vivamos Nele, e com Ele”. (Escritos – diário Albertina Gasolis).  
Marello preocupa-se da qualidade e não da quantidade. Sua experiência cristã transcendia a comum consciência cristã que nada sabe de tais abismos. Experimentava claramente na vida o que o cristão conhece somente na escuridão da fé. A experiência idêntica, como a consciência, a diferença está no grau. A nós interessa o jeito como o Marello viveu, como se comporto  ele que de verdade acreditava no relacionamento com Deus.
Pelo seu temperamento o eco do passado era forte e prolongado no Marello, todavia, sabia absorvê-lo de forma positiva no plano de Deus; à luz da fé, de tudo isso  extraia preciosas lições para si e para os outros, mas olhava predominantemente ao presente e colocava o futuro nas mãos de Deus e sob o patrocínio de São José. Sabia aquilo que devia ser, pedia a Deus aquilo que devia fazer. Todas as suas escolhas, era a linha da vocação e dos programas juvenis. Os ideais, depois de Turim, ficaram sempre claros na sua mente, o Senhor lhe indicou cada vez o caminho que conduzia à realização. O caminho principal de sua vida espiritual, a imitação de Cristo, tomando como inspiração São José, o guiou à realização, à perfeição. Ele também, como Paulo, combateu o bom combate, e conservou a fé (2Tm 4,7). Por isso, sua vida foi serena fecunda, sem angustias nem tensões, mesmo singrando mares turbulentos e agitados, quais foram, sobretudo os últimos anos de sua vida. Todos diziam: é um santo. O que realmente queriam dizer? Exatamente isto: “Como se assemelha a Jesus!”, porque a sua vida foi um “sim” sincero e contínuo ao Senhor Jesus; em Turim entregou-lhe as rédeas de sua vida.
Se Cristo é caminho ao Pai, São José Marello mostrou claramente este caminho também para nós seus filhos espirituais.  Todos os santos mostraram este caminho por meio de diferentes espiritualidades, que o nosso Fundador conhecia e a quem atingia. Depois Maria e José tomou conhecimento das diferentes espiritualidade, todavia, sua alma encontrou um estilo espiritual próprio, e original,  no exemplo de São José, na imitação daquele grande modelo de vida espiritual. Tomou inspiração também de Santo Inácio, de           Santa Tereza d´ Avila, São Francisco de Sales, São Felipe Néri, Santo Afonso e outros santos.
Foi aquilo que devia ser segundo o projeto de Deus, um santo a sociedade e da Igreja do seu tempo,  cumprindo a missão a ele confiada pelo Senhor, reconhecida e aprovada pelos superiores não avaliemos o Marello pelas obras, e pela programação delas, porque seria trair profundamente a sua espiritualidade que olha o interior e não o exterior, o pequeno e não o grande a intensidade e não a grandeza da ação humana, o comum  habitual e não o espetáculo olha o ser e não o fazer. Quis simplesmente ser um cristão verdadeiro, um sacerdote autêntico,  não para si , mas para o mundo. Compreendeu que a santidade é relação, se de verdade é a imitação de Cristo. Imitar Cristo é imitar também a sua missão. Como Jesus caminhando na Palestina, o Marello como jovem sacerdote – secretário – caminhando pela Diocese e fora dela, viu, escutou, percebeu: ele passou como Cristo. Se fez sal,  fermento, luz, escondido debaixo da terra fermentou. Tudo tomado por Jesus, terminou para ser totalmente tomado pelos outros. Quis ao seu redor, pessoas também disponíveis para Jesus, como São José: tomados e devorados pelo zelo por Cristo, pela sua Igreja. Homens oferecidos, Oblatos, com o coração de Jesus. O seu preparo cultural, filosófico e teológico a vidas dos santos, o livro de história e cultura, sobretudo religiosa, o ajudaram a colocar a sua vida interior conscientemente no horizonte cristão e civil como digno filho da Igreja e da sociedade. Leu as vidas dos santos porque neles triunfa a vida de Cristo. A graça, a vida divina, revela-se neles de um jeito humano próximo a nós; os santos triunfam sobre as dificuldades que nós conhecemos, indicam os esforços a serem cumpridos mostram-nos os sofrimentos e as alegrias. Neles se esparrama a riqueza de Cristo sempre nova, o Evangelho em foco. Os exemplos possuem um forte atrativo, o influxo que provém da leitura da vida dos santos pode ser decisivo. Prova disso a insistência do Marello com os amigos. É um fato que através da vida dos santos o Marello aprendeu a ler o livro mesmo de Cristo que é o Evangelho, com fé e perseverança.
Os primeiros modelos que o guiaram a Cristo permanecem Maria e José, que, mesmo de forma diferente pelo papel desenvolvido no mistério da encarnação, se projetaram totalmente em Cristo, tornando-se assim, os exemplos mais altos de um autêntico seguimento de Cristo. E, como bom pai, enquanto percorria a estrada de Maria e José, a apontou aos seus filhos espirituais, dando-lhes as mãos como as crianças. Assim, dizia no domingo 7 de setembro de 1884, numa pregação às Irmãs do Instituto Milliavacca: “Supliquemos a Maria que nos ensine a servir o Senhor e imitemo-la. Maria SSma. é também nossa mãe: que confiança devemos ter n’Ela! Pensemos! Se tanto amor têm as mães terrenas por sua prole, que amor não terá por nós Maria SSma., que foi destina por Deus a ser nossa Mae? Portanto, confiança plena em Maria, e procuremos merecer a sua proteção prestando-lhe os nossos obséquios filiais”.(Escritos – diário a Albertina Fasolis).
Em 15 de março de 1889 dava este consleho a Bice Graglia:“Recomendemo-nos ao glorioso São José, guia e mestre da vida espiritual, sublime modelo de vida interior e escondida”.(Escritos – conselhos  a Bice Graglia). São José guardou e protegeu Jesus criança e lhe fez as vezes de pai por trinta anos, guardando a sua humanidade santíssima, dispenseiro da Sagrada Família: são algumas das expressões que o Marello usava para pontualizar São José. Ningue´m melhor que ele, depois de Maria , conheceu, amou, imitou Jesus.

6. A MATURIDADE.

 Devido a constante luta interior e também por uma disposição caracterial, conseguia dominar sentimentos e paixões. Era maduro, dono de si, interiormente harmônico, porque conseguiu desenvolver de maneira adequada e sincronica todos os aspectos da sua personalidade. Também ao Marello homem maduro era apropriada as palavras que escria nas “Confissões” em 21 de janeiro de 1868: “Oh qual grande vitória seria se eu tivesse  coragem de combater deveras as ridículas pretensões do amor própril. É um espetáculo digno dos homens e dos anjos. A pessoa que em todas as circunstãncia é dona de si mesma. Mas eu  sem perceber já tracei um plano geral de conduta seguido qual palmilharei o caminho da perfeição. Não deixar aparecer um pensmaento na mente que não seja revisto pela consciência e depois escolhida uma ação por em prática o adagio: age quod agis (faça bem o que está fazendo), eis as bases daminha conduta: sufocar as tendências desordenadas das potências inferiores, fazer  de forma que a vontade seja dona de si mesma a cada momento. Assim, a vontade capaz do seu dever, será ela a guardiã fiel de todas as nossas ações e dirigirá com eficácia o a economia de todas as nossas humanas funções. Oh Deus! Ajuda-me enderço racional da mente., freio do coração. (Escritos – Confissões). Os documentos juvenis não apresentam, inteligente, racional, reflexivo, sábio, pessoa de vontade, tenaz. Não era com certeza um tipo institntivo ou automático nas ações e reações, mas podnerado e prudente. Sabia ver e prever, e isto o colocava muito perto de Deus do ponto de vista do qual observava o jogo da vida, a sua mesma vida. Previa para si e para os outros, era dono da sua ação e reação; não tinha medo da maturidade, mas trabalhava com entusiasmo, como testemunho nas cartas juvenis.
Conhece bem o entusiasmo juvenil como ele termina porque conhece a formação do caráter. Esclarece o tipo de vontade e de fé que se propõem: fé inabalável e vontade perseverante nnão efemera; fixar a meta e olhar para lá sempre. São estes os conceitos que expõe ao amigo Delaude: “O entusiasmo juvenil, como o éter quando debaixo em vaso aberto, "volatiliza-se"e se perde. Não devemos confundir a vontade passageira e, por isso, insuficiente com a vontade permanente, portanto eficaz. Quem não é firme nas convicções será sempre fraco e incapaz. É preciso crer sempre, com equilíbrio, inteligência e firmeza. As grandes inteligências de nada valem. Os grandes caracteres é que abalam o mundo”.( C 10).
Sabia entusiasmar-se e entusiasmar, permanecendo, porém  sempre firme de uma maneira uniforme, lógica e tenaz nas suas convicções, exaltando-se também nos ideais, olhando e apontando diretamente à meta pré-fixada (C 10). Quando se tornava necessário, elogiava e encorajava os amigos, sustentando-os com a oração e o conselho,  unindo-os em comunhão de intentos no plano  humano e espiritual em vista do sacerdócio e da perfeição. Clara e lúcida era a sua oposição aos inimigos da Igreja,  mesmo compreendendo as pessoas; compreensão que com o passar dos anos torna-se pacata e serena, de um ponto de vista sempre mais sobrenatural. Era firme e sincero para com todos, a começar de seu pai.sabia sempre,  com dissemos controlar as suas reações conservando sempre a igualdade de espírito, uma santa indiferença, doçura, calma, mansidão, serenidade em todas as circunstâncias. Estas atitudes era os frutos melhores da sua colaboração com o Espírito Santo, que o mantinha recolhido, com a alma abandonada na vontade de Deus, ao qual o Marello dizia: “ Hoje farei aquilo que Vós quereis, meu Deus, e amanhã também, no tempo e do jeito e nas circunstanciais nas quais me queirais”. (Escritos – diário Bice Graglia). Aconselhava esta oração a Bice Graglia em data de 22 de março de 1889: Sabemos em quais problemas e dificuldades estava metido e conhecemos a dor e a angustia da sua alma pela saída de Asti e dos seus filhos. Escrevia em 1868: “Crer esperar amar: eis a vida; a dúvida obscurece a inteligência, corrompe os afetos, no faz sentir o peso de nós mesmos; a fé ilumina a mente, purifica o coração  nos torna felizes. A indiferença é uma sombra terrível debaixo da qual só cresce a erva daninha do vício; a esperança é o orvalho  fecundo que faz germinar as mais belas flores das virtudes” (Escritos). Tinha 24 anos e as idéias muito claras. Nessas palavras tem os valores fundamentais: um horizonte, uma chegada que supera a vida, a sociedade, a história. Ai tem a pessoa com os seus valores perenes, empurrada por eles, a necessidade de abrir-se como dom, a comunidade, a cultura, o empenho, a salvação que vem do alto. Este era o projeto educativo do Marello, bem presente aos seus olhos. Nos valores colocava a si mesmo e os seus filhos espirituais de forma autônoma e consciente, O Marello  manifesta ter uma concepção pessoal da história, da pessoa, uma teologia, uma teoria dos valores, enfim um projeto, um programa. Não educava simplesmente a viver de forma correta com os outros, a comportar-se bem conforme a ocasião e as circunstâncias. Unificava o projeto clareando os seus fins, propondo meios e metodologias. Ainda jovem  ele tinha encetado em um caminho íntimo e profundo de adesão a Cristo e acolhia os imperativos dos seus programas pondo coerência no seu modo de ser e agir, e isto eliminava tudo aquilo que emperrava o seu encontro com Deus, com Cristo. Este encontro por um lado o colocava em atitude de paz, serenidade, e alegria, já lembrados, por outro o libertava do desânimo, da tristeza,  de todas as formas egocêntricas de amor, da falta de um bom olhar, acolhedor, otimista para tudo aquilo que acontece. Tudo isto o tornava uma verdadeira testemunha da experiência de Cristo. Na direção espiritual e nas pregações, por isso, se tornava fascinante porque não jogava fora palavras, idéias, desejos, emoções, discursos concernentes a Deus,  mas propunha uma presença viva de Cristo, um Cristo “a ser visto”: era uma pessoa sólida. As pessoas mas do que escutá-lo, viviam nele a estabilidade de rocha que resiste e permanece firme nas dificuldades da vida, em ocasião dos duros golpes que conheceu, a instabilidade do navio que atravessa o mar, em tempestade (basta reler a pregação em Santa Chiara do domingo 03/02/1889 sobre a tempestade acalmada, antes de partir para Roma) que conseguem manter a rota e alcançar o porto desejado: “Unamos a nossa frágil barqueta à nave solidíssima da Igreja que é guiada pelo capitão Jesus Cristo, e conservemo-nos bem unidos a ela: depois, não temamos mais nada de ninguém, porque Jesus, que ordena aos ventos e ao mar, certamente não nos deixará perecer, malgrado a nossa fraqueza e inexperiência”  (Escritos – diário  Bice Graglia – 1889).  Com Cristo se vence , nunca se perde, também quando somos frágeis e fracos, aliás, justamente neste momento, se confiamos e nos abandonamos com fé em Jesus, o poder de Jesus vem em realce.
A Bice Graglia em 06 de abril de 1888 aconselhava nos momentos  em que somos tomados pela ira e o demônio insinua-se para fazermos cair de recomendarmos ao Senhor e de “submeter o coração à razão e a razão à santa vontade de Deus. A razão deve predominar sempre, mas sobretudo nestes momentos” (Escritos – diário  Bice Graglia – 1888). E traz o exemplo da família em que os filhos são obedientes ao pai que ás vezes, deve severamente chamar a atenção às desobediências dos filhos; os filhos por sua vez, conhecendo a severidade do pai  no futuro se absterão não só das desobediências graves, mas também das pequenas.  Assim, as faculdades submetidas à razão, poderão adquirir aos poucos, com a repetição dos atos, o costume e a disciplina e não se revoltarão mais com tanta facilidade. Com a ajuda de Deus, diz se nele confiarmos ou invocarmos, o Senhor nos ajudará  e a razão voltará a dominar. Sabe que a ira enfraquece  e torna quase impotente a razão. Em 12 de janeiro de 1889 voltava sobre o mesmo conselho. “A nossa vontade é tão firme que infelizmente nunca quer dobrar-se do lado o amor próprio resiste; precisa fazer violência a si mesmo e dobrar-se sempre suavemente do lado do Senhor. Precisa tornar-nos dono da nossa vontade, desapegar-nos do nosso julgamento, da nossa opinião, do nosso amor próprio, para querer aquilo que o Senhor quer nas várias circunstanciais e contrariedades da vida” (Escritos – conselhos  Bice Graglia – 1889).São dois conselhos significativos. São José Marello demonstra-se sábio e prudente, delicado conhecedor da alma humana e de todos os seus coeficientes. A ele interessa que a jovem Bice Graglia caminhe na via da perfeição que tem como meta a santidade, a maturidade plena do homem e da mulher. Parece dizer-lhe: Seja mulher! Beatriz é uma pessoa, não uma árvore que resiste com toda a sua força o vento e nem é uma menininha. Deve agir conscientemente em plena liberdade, para ir ao encontro à meta que é à vontade de Deus. De fato, São José Marello lhe aconselha o predomínio da razão,  sobretudo quando somos tomados pela ira ou por coisas que repugnam, mas especifica que esta última deve submeter-se a vontade de Deus. Foi um homem rico de sentimentos e de paixões, mas o aspecto mais no interessa é o domínio,  a controle das suas ações. Seja na alegria, seja no entusiasmo, seja no desdenho, foi equilibrado, controlado, dominou as suas reações. A riqueza dos seus ensinamentos nos restitui a figura de um educador quer no plano espiritual, quer humano. Educou os filhos espirituais à calma, ao controle, à humanidade é enaltecida pela graça. Tinha a qualidade da inteligência  que se chama prudência. Exatamente este dobrar do lado de Deus suavemente o tornava calmo e sereno ou aconselha também a Bice. Desapegar-nos dos nossos pontos de vista – diz e instalar-nos naquele do Senhor. Bice é jovem, para os jovens é fácil às paixões terem supremacia em cima da razão. Os jovens além disso carecem de experiência. Prudência e controle devem ser construídos, até a maturidade. Quando aconselhava  o domínio de si é espontâneo voltar aos anos de Turim, anos de luta,  voltada para o domínio de si. Percebe-se isso, quando aconselha “fazer violência  a nós mesmos”, o que ainda ele faz. Fala dessa maneira porque sabe que o homem é livre, não um peão, mas dono do seu destino. Às vezes, porém, se deixa dominar pelas suas paixões, que deve continuamente manter no cabresto. Por isso, nisto o Marello parece inflexível,  aconselha “a violência”, ou seja, toda a energia de vida, nenhum ternura quando está em jogo a nossa humanidade. Dom Marello não aceita imaturidade,  que fecha a possibilidade da perfeição.  Não pode caminhar no caminho da perfeição quem não sabe cuidar de si mesmo, manter a ordem e harmonia nas suas coisas. Onde tem harmonia pode-se falar de crescimento, de personalidade sólida e firme. É uma luta difícil, que aparece todas às vezes, em que o Marello fala das paixões, a começar dos documentos programáticos escritos nos anos da teologia, mas também já como sacerdote e diretor espiritual. A sua posição é aquela de Paulo. Os inimigos “não estão em nós”, mas “não são de nós”. “Invoquemos o Espírito Santo e depois façamos de tudo para rechaçar estes movimentos do coração”. (Escritos – conselhos Bice Graglia 1889). “A concupiscência e a ira ... estas duas paixões em si não são nem boas nem mas, porque pertence à nossa natureza: Se bem dirigidas, torna-se boas e fonte de merecimentos. (Ensinamentos – Instituto Milliavacca 1881). “Mas quando a paixão se agita e a mente atormentada, é fácil, que o demônio, se não de forma aberta, pelo menos de forma velada, começa insinuar-se no nosso coração. Por fim, entre e se estabelece como dono de nossa alma. Estejamos atentos, porque ele começa bem devagar...  (Escritos – diário Albertina Fasolis 1884). “Quando estamos mergulhados na tentação e o demônio quer a todo custo entrar em nossa alma... reunamos todas as nossas potências: a memória  para lembrar-nos dos benefícios de Deus, a inteligência, considerando a grande bondade de Deus a feiúra do pecado, a vontade para animar-nos à resistência e pôr-nos resolutamente e firmemente do lado de Deus”. (Escritos – diário Albertina Fasolis  1886). “Parece impossível, mas em certos momentos, todas as paixões, que parecia dormitar, acorda: a paixão dominante, levanta o seu estandarte da rebelião indo ao encontro do demônio e todas as outras paixãozinhas a seguem... esses momentos devemos invocar Jesus que nos fale  e  acalme com sua voz  poderoso o tumulto das nossas paixões” (Escritos – diário Albertina Fasolis 1886) “Quando aceitamos as nossas paixões e queremos tomar-nos algumas satisfações, então caímos nas mãos de mil tiranos... senão obedeceremos ao Senhor, que é tão bom, deveremos obedecer a outros donos cruéis e tiranos, quais o demônio, o mundo e as nossas paixões”. (Escritos – diário Albertina Fasolis 1886).
Inicialmente Marello aconselhava, seja a Bice Graglia, quanto na pregação, de cair suavemente do lado do Senhor. Esta atitude, não deve ser considerada  em contraste com a violência, que nos pede de exercitar contra as paixões. De fato, o Marello diz que  se as paixões se torna donos cruéis e tiranos que torna o homem escravo, por outro lado “o Senhor nos diz que o seu serviço é um jugo é um peso, e por isso, temos merecimento em carregá-lo; mas logo nos lembra que este seu jugo é suave que este peso é leve, ou seja, que o seu domínio é cheio de misericórdia e bondade”. (Escritos – diário Albertina Fasolis 1886).
Ao controle, ao domínio, ao senhorio de si mesmo, chega-se lentamente, como caminho de crescimento, um fato educativo, “certas paixãozinhas deve ser logo subjugadas, enquanto ainda são pequenas: são como cobrinhas que ainda podemos pisar com facilidade” (Escritos – diário Albertina Fasolis 1888). Nos parece de compreender pelas palavras do Marello, que as situações reais, concretas, em que nos encontramos a viver nem sempre são claras, e que portanto, a luta é encarniçada, porque não se trata de vencer ou destruir um inimigo exterior, trata-se de equilibrar as paixões, canalizá-las, endereçá-las ao bem. Não deve ser pisado o poder e as energias das paixões, mas precisa fazê-las trabalhar ao nosso favor. Escrevia Pe. Cortona em 07 de março de 1891: “Para fazer  o bem também as paixões ajudam; quando elas não dominam, e nos deixamos guiar pela razão ao serviço da qual nos as submetemos  com a graça do Senhor” (Carta 207). Precisa uma luta medida, severa e tenaz. Precisa contar com derrotas. Não devemos passar do lado do adversário, nem abandonar o terreno de luta. Com seus conselhos nos convida a combater pela nossa postura e a não renunciar aos sacrifícios que precisamos fazer para defendê-la, pela liberdade, porque sabe que quando nós não somos soberanos, também não somos pessoas, mas escravos. À luz de quanto foi dito, encontramos consonância palavras escritas de 21/01/68: “É um espetáculo digno dos homens e dos anjos a pessoa que em toda circunstância domina a si mesma” (Carta 207).
Percebemos seja nos conselhos como nas homilias, ele forme personalidades livres, e criativas, sólidas e harmônicas. Formou-se e forma, não à angustia, à intranqüilidade, ao medo, mas à alegria, à serenidade, à tranqüilidade de alma,  à liberdade interior, à mansidão, e em todas as circunstância da vida, espelhando-se  no modelo sublime que é São José. Esta é formação positiva e preventiva, que constrói, não conhece nem desanimo, nem desespero, muito menos repressão. Aquela de Dom Marello era uma pedagogia de promoção humano que se apoiava sobre a razão e o amor, no mesmo estilo de Dom Bosco.
Sabia, sobretudo, fazer silêncio e recolher-se interiormente. Conseguindo mergulhar,  também nas vicissitudes mais dolorosas de sua vida, nunca se deixou se arrastar pelo ódio ou vingança, mas sempre foi educado, compreensivo e caridoso. Verdadeiramente procurou imitar Jesus, manso e humilde de coração, submetendo-se sempre o coração à razão, e esta à vontade de Deus. “Ver todas as cosias à luz da fé”. (Escritos – conselhos Bice Graglia 1889). Também nisto o Marello demonstra-se compreensivo prudente, humano, quando diz a Bice Graglia em 16 de abril de 1888, “Façamos momento por momento a santa vontade de Deus, sigamos fielmente as pistas de Jesus, aceitemos todos os atos de virtudes que se apresenta por cumprir no  nosso caminho, com aquela serenidade de que  é capaz o nosso coração e não nos iludamos sobre o porvir, que não está em nosso poder. Vale mais o mínimo ato de virtude praticado no estado presente, do que mil e santos desejos e generosos projetos de uma santidade futura”. “Às vezes, queremos fazer coisas demais e até precedemos a graça do Senhor, daí encontrando-nos sozinhos e sem forças caímos”. Escritos – conselhos Bice –Graglia 1888).
A perfeição deve ser procurada nas ações e não nos desejos, não deve ser programada. “Busque sempre – diz  a (Escritos - conselhos Bice Graglia 1889) – a perfeição em todas as coisas, mesmo nas mínimas, e seja dócil, às inspirações do Espírito Santo, deixando-se guiar por Ele em todas as circunstâncias” . Seguiu, imitou, reproduziu o coração e os gestos de Jesus na concretude dos fatos diários de cada dia. A sua é uma santidade prática.
Era sensibilíssimo e tenro, rico de afeto, mas sempre equilibrado nas suas expressões. A calma, o domínio, o equilíbrio, transpareciam também na pregação e na direção espiritual, justamente  pela sua aderência  à realidade quotidiana, ao dever do próprio estado sem fugas para frente em santidade programada, existentes mas no desejo generoso do que na possibilidade real. Pensamentos neste sentido já foram citados. À Bice Graglia em 16 de abril de 1889 um sábio e prudente conselho “não queiramos então correr demais, mas sigamos passo a passo o bom Jesus . Ele quer conduzir as almas para as veredas a ele só conhecidas: se nós queremos correr demais, e passar na frente de Jesus e na frente de sua santa graça corremos o perigo de errar o caminho e não alcançar a meta: Deus quer dirigir ele mesmo nossos passos”. Somos diz o Marello discípulos que seguem e não Mestres. E o Senhor, o temos vistos, quer conduzirmos normalmente,  ordinariamente pela caminho do quotidiano, pois de outra forma, diz em seguida, corremos o risco de expor-nos imprudentemente aos perigos. Fazer de cabeça próprio quer dizer presumir de sermos fortes, bem defendidos, mas a vontade de Deus, os ensinamentos deixados por Jesus  são “aquela sábia e admirável guarda que nos põem ao seguro das surpresas e dos perigos e das seduções do demônio”. (Escritos – conselhos Bice Graglia 1888). “Muitas vezes o demônio pode tornar desordenados também os bons desejos e fazer nascer falsas ilusões; bem disseram os santos, que também a virtude pode ser desordenada”. (Escritos – conselhos Bice Graglia 1888).
São José Marello era sábio, prudente, equilibrado, concreto e esparramava ao seu redor estas suas atitudes que contribuíam  a dar-lhe muita serenidade e clama interior. Por isto, ninguém o viu tenso, preocupado, psicologicamente cansado, também nos momentos mais difíceis quando as  reações incontroladas podiam ter pelo menos uma explicação. Cristo era o marujo do seu barco, e o Marello sabia nas circunstâncias críticas retirar-se em si mesmo ou ajoelhar-se perante o Tabernáculo, ou mergulhar-se na Eucaristia. “O nosso Tabor é a santa Comunhão: aqui de verdade, gozamos, senão da vista, da presença de Jesus”. (Escritos – diário Albertina Fasolis 1887). “Jesus nos deu a si mesmo no santíssimo Sacramento permitindo-nos de recebê-lo cada dia.Ele nos dá as riquezas da terra, que consistem na paz da consciência, e aquelas do céu, que são as graças e o amor. Vendo a portinha do Tabernáculo sempre parece de ver a porta do céu”. (Escritos – diário Albertina Fasolis 1887).

Amadureceu mergulhando na essencialidade da simplicidade, do abandono,  da calma, da paz de Cristo. Olhou para dentro de si, refletiu, amou o silêncio,  recolhendo-se em Deus, para amar Deus. Simplicidade e  abandono para o Marello significavam  reduzir ao simples, aquilo que é complexo,  santa indiferença, liberdade da casca exterior, estar em si mesmo, em Cristo. Aqui ficava na calma e na tranqüilidade, encontrava o equilíbrio, o domínio de si, o controle,  daqui saia e retornava nos momentos  de descanso. Dava  este conselho a Bice Gralia em 12 de agosto de 1888: “Tenhamos continuamente o nosso coração fixo em Deus, e jamais nos apartemos desse doce abrigo; mas por vezes precisarmos, por dever, tratar com pessoas mundanas e entreter-nos em coisas indiferentes e terrenas, consintamos, também por sentimento de caridade, com os desejos dos outros, embora em oposição aos nossos. Formemos uma salinha no nosso coração, um bonito lugarzinho, onde Jesus possa sempre habitar, e onde possamos, mesmo em meio ao tumulto e às agitações do mundo, recolher-nos em Deus e fazer ali, de tanto em tanto, alguns retiros espirituais” (Escritos – conselhos Bice Graglia 1888).  E as suas decisões  não eram erradas porque vinham da vida profunda, meditadas  e ponderadas com Cristo, não pela fúria dos elementos exteriores ou pelas paixões humanas.
Era por isso, capaz  de acompanhar e de viver as amizades. Como Jesus, ajudava a crescer, renovava a confiança em si. Quem dele se aproximava notava que no Marello tem  um “algo a mais” que não encontra simplesmente uma pessoa boa ou muito boa. Existe um “algo mais”, quando o encontro renova o amor no produndo, o faz aumentar, tomar todo lugar que é seu;  quando  nos sentimos arrastados num espiral, sem algum perigo ou medo ao redor de um Outro.
Esta oração que  colocava nos bábios de Bice Gralia em 1 de fevereiro de 1889 era a sua oração, aquela que fazia frequentemente: “Senhor, eu vos prefiro a todas as grandezas, a todas as alegrias terrenas. Só vós haveis de bastar-me sobre esta terra e nos céus: sem vós pareceria que não tenho nada”.  É a compreensão do homem maduro a escolha feita em Turim, de um  homem experiente, provado por mil dificuldades, na espera das últimas provas mais  cruéis.

7. CONCLUSÃO
No final destas reflexões, que não pretenderam esgotar  um argumento tão grande e articulado, depois ter falado  muito de São José Marello, colocado em evidência além da espirtualidade, também a profunda sensibilidade,  citamos as anotações  que a mesma Bice Gralia escreveu no seu Diário espiritualm descrevendo a saudação a Dom Marello que partia para Acqui, para ingressar na Diocese é comovente a descrição dos estados da alma, sobretudo do Marello, e pelas frases cheias de pesar que usa a Graglia, percebemos claramente também a profunda dor pela perda de um guia espiritual experiente e iluminado, misturada à alegria de saber que muitas outras almas teriam recebidos os cuidados pastorais do novo Bispo Dom Marello.

15 de junho de 1889
Depois da última despedida. – O sacrifício está consumado! Recebemos do nosso bom Pai os últimos conselhos, as últimas lembranças, e trocamos entre nós a promessa de rezar sempre uns pelos outros, conservando-nos sempre unidos no Divino Coração de Jesus. Ele nos colocou a par de todo o bem que haveria de fazer em Àcqüi como Bispo, pedindo-nos que lhe deixássemos a liberdade de vir pescar nos nossos pobres tesouros espirituais.
Amanhã partirá o nosso Ven.mo Pai, que por cerca de seus anos guiou-nos com tanto zelo, caridade e sabedoria nos caminhos do Senhor. Quanto sofre o seu coração delicado e sensível por separar-se da sua família espiritual, dos seus filhos diletíssimos, que o circundavam de tanto amor e veneração; dos seus caros internados, das suas obras, para seguir a voz de Deus, que o quer Pastor da Diocese de Àcqüi! Ele sofre, mas está calmo, sereno, tranqüilo que parece um cordeiro. Deu-nos sua última bênção e separamo-nos dele com lágrimas nos olhos, mas com a paz no coração aflito.

17 de junho de 1889
Nosso bom Pai já pariu, deixando um imenso vazio na Casa de Santa Chiara, na nossa cidade e no coração de quantos o amavam. A separação foi muito dolorosa para todos. Fomos ainda ouvir a sua Missa e receber dele a Santa Comunhão. Seu aspecto grave e cheio de unção parecia inspirar naquele momento veneração ainda maior. O seu coração estava de tal forma amargurado e angustiado pela separação, que não pode conter as lágrimas durante todo o tempo da Missa e da Comunhão, encontrando-se pela última vez a celebrar como pai em meio a sua querida família. Todos estávamos profundamente comovidos. Depois da Santa Missa, recolheu-se no coreto para fazer a ação de graças e ouvimo-lo ainda a soluçar. A ponto de deixar a igreja, elevamos o olhar ao coreto e vimos a sua mão paterna que nos concedia a sua última bênção.
Não tivemos mais coragem de assistir à cena afligente do Ven.mo Bispo e Pai circundado pelos seus filhos, todos chorosos, que lhe beijavam a mão, enquanto ele, não conseguindo mais articular palavra, só com a abundantes lágrimas manifestava a desolação de seu ânimo.
Deus nos tirou o nosso santo Pai para dá-lo a uma outra população que o espera festiva e jubilosa, contente que o Senhor lhe tenha concedido um tal Pastor. Esperamos que saibam apreciá-lo, consolá-lo e compensá-lo do seu doloroso sacrifício.
O nosso olhar e o nosso coração estarão sempre voltados para Àqüi, donde esperamos ainda luz e conforto.
Deus seja sempre bendito e agradecido pelo grande dom a nós concedido, mesmo se por tão breve tempo.



Artigo publicado em MARELLIANUM, n. 47 julho – setembro 2003
Tradução Pe. Mario Guizoni, osj

VIDA EM CRISTO DE SÃO JOSÉ MARELLO (Primeira Parte(

VIDA EM CRISTO DE SÃO JOSÉ MARELLO  (I)
                                  
            Pe. Fiorenzo Cavallaro, OSJ

PREMISSA

            Não temos um verdadeiro “Tratado da Espiritualidade” pensado, redigido, escrito diretamente pelo nosso Fundador, mas conservamos grande parte das suas correspondências, apontamentos, ensinamentos e meditações que, analisados atentamente e visto numa ótica geral, nos permite extrair a sua espiritualidade.
Conscientes que O NÚCLEO DA ESPIRITUALIDADE MARELLIANA É CRISTO, pensamos que este estudo tem o título “VIDA EMC RISTO DE SÃO JOSÉ MARELLO”.
O nosso  trabalho fruto de aprofundamentos a partir de suas cartas e de seus escritos, não é orientado queremos logo dizer isto, numa linha cronológica e progressiva de acontecimentos. Por isto es escritos não são citados em ordem cronológicas, mas escolhidos e agrupados para evidenciar determinados aspectos típicos do “estilo” espiritual do Marello.
Concentramos os nossos esforços para criar um percurso temático, um mapa conceitual, que esclarece os aspectos fundamentais e peculiares da Cristologia Marelliana justamente a partir de seus escritos, sem olhar então a data deles.
É clara que a Espiritualidade Marelliana é bem mais rica e complexa daquilo que poderia parecer a “primeira vista”. Afinal o nosso Fundador possuía um patrimônio espiritual e cultural muito grande a qual muitas vezes atingia, acrescentando sempre novos e originais pormenores. É por isto que, com muita simplicidade entramos neste estudo apaixonado com a intenção de extrair para nós e para todos novas linhas de reflexão, tentando “fazer falar” o mesmo Marello através das cartas e dos escritos, e pondo em realce não só a elegância do estilo, mas também a riqueza e variedades da mensagem.

I.              INTRODUÇÃO

Paulo VI, na abertura da 2ª secção do Vaticano II em 29/09/1963, colocava e ao mesmo tempo respondia três perguntas:
“Onde começa o nosso caminho? Qual o caminho a percorrer? Qual a meta devemos nos propor?” e esta foi a sua resposta: “Cristo! Cristo,  nosso princípio. Cristo nossa vida e nosso guia! Cristo, nossa esperança e nossa meta!”
João Paulo II, em 04/03/1979 iniciava a Encíclica  “Redemptor Hominis” com estas palavras: “O Redentor do Homem, Jesus Cristo, é o centro do Cosmos e da história”.
São duas afirmações fundamentais para a Teologia, a Pastoral, e a Espiritualidade  da Igreja e de todo cristão. O mesmo Papa escreve nesta Encíclica que o homem encontra a sua luz somente no mistério do Verbo Encarnado; Cristo Redentor revela plenamente ao mesmo homem. É Jesus Cristo que revela o amor do Pai ao homem, o qual não pode viver sem amor e é chamado a viver a sua vida como amor, e sem o qual a vida não teria sentido. Afinal: o homem, não pode prescindir de Cristo.  Tudo faz referência Ele,  e a pessoa humana de forma especial. Jesus Cristo é a alegria de todo coração, a plenitude das aspirações humanas: Cristo é luz e força para todos. É o que estimula e dá dinamismo à interioridade e à profundidade do homem de cada homem.
São José Marello já estava em perfeita sintonia com o pensamento e o desejo da Igreja de hoje, e, por outro lado, com a espiritualidade de 1800, que põem ao centro de tudo a humanidade de Cristo. Neste período se põe em realce, de fato, a figura de Cristo nos momentos mais significativos de sua vida, como aparece no Evangelho: Cristo que nasce, cresce, obedece, ama, cura, sofre, morre, ressuscita. Tudo isto para expressar a piedade e o culto dos cristãos, mas, sobretudo, para chamá-los a reproduzir a vida do Salvador.
Plenamente consciente que Cristo é Caminho, Verdade e Vida, o Marello procurou tornar esta verdade significativa e eficaz para si e para todas as pessoas que foram aos seus cuidados pastorais como sacerdote e bispo.
Análise mais atenta de seus escritos nos oferece uma genuína espiritualidade Cristocentrica. Cristo é a figura central, o eixo da sua personalidade cristã, aquele que dá consistências e sentido a sua interioridade, aquele que forma o seu eu cristão no sentido Paulino.
Desde a sua juventude José Marello lutou contra o eu “carnal”, sito é a todos aqueles aspectos da sua personalidade ainda inclinados ao pecado, ao orgulho, ao amor próprio, e ao individualismo, para dar lugar ao eu “espiritual” para que pudesse também como Paulo aos Gálatas 2, 20: “Não sou mais eu vivo, mas é Cristo que vive em mim.” Escreve de fato, em algumas cartas do período Juvenil: “... deixando de pertencer a Deus começou a pertencer a um ídolo de carne e, depois a um  ídolo ainda mais ciumento e exigente – ambição. [...] Oh se pudesse fazer uma petição ao Pai do céu a fim de que extirpasse da terra aquela má besta  que é o amor próprio, a vida aqui seria bem melhor. Mas, vamos! Se Deus não nos permite matar de uma vez este monstrou, não nos nega porém, a força para nos livrarmos,  quando investe contra nós, de suas mordidas envenenadas”. (Carta 5).
“A experiência no-los diz continuamente que nas obras fazemos sempre menos do que prometemos com as palavras. Portanto, não me julgue mais do que realmente sou... As distrações do mundo, tendem todas a neutralizar estes celestes sentimentos de amor, para substituí-lo pelo espírito pessoal, enxertado nos instintos egoístas que herdamos da natureza” (Carta 8). Trata-se de combater a todo custo aquele espírito de transação que tenta infiltrar-se por tudo, que é o fatal dissolvente dos melhores projetos e dos maiores propósitos. Querer – sempre – a qualquer custo. Nós contra nós. O eu bom que combate o eu mal; o eu de um instante, mas de um instante sublime, que se levanta para combater o eu de todas as horas; o eu do passado, o eu do velho sistema; é o eu que quer de uma vez por todas, mas que se multiplica a todo momento naquele ato eficazmente volitivo; é o eu que como a Fênix se consome e renasce das próprias cinzas” (Carta 9). Juntamente a uma lúcida análise dos demônios a serem combatidos com todas as forças, indica também alguns meios, que ele mesmo usava  com empenho e constância, pois conhecia os benéficos efeitos: “Oração meditação, e violência – violência continua contra nós mesmos... e a cada hora que passa digamos com Santa Tereza: Coragem; uma hora a menos para lutar” (Carta 11).

        Um momento importante: Os anos de Turim.

Relendo a sua vida durante o período da permanência em Turim à luz destas considerações, podemos afirmar que o Marello em Turim fez a experiência da libertação, como Paulo no caminho de Damasco. O vemos meditar e elaborar projetos no espírito do humanitarismo laical, do apostolado humanitário, ele mesmo admite claramente que queria realizar-se no mundo em virtude própria, com as suas capacidades somente de forma  operosa e sagaz. Lemos de fato,  “As sedutoras feições e as aliciantes promessas desta divindade enganadora (ambição) tinha me levado ao ponto de não pensar  nem desejar mais nada, a não ser o apostolado humanitário- veja só que palavras ampolosas pode produzir a faculdade inventiva do ambicioso... O primeiro degrau teria sido o jornalismo; deste se passaria à tribuna popular; da tribuna ao proselitismo doutrinário e, deste último ao proselitismo prático  a última frase da propaganda e o princípio do novo sistema da economia social” (Carta 5).
Pode parecer que o Marello tinha abandonado sua vocação pelo condicionamento da situação política do eu tempo, pela insistência do pai de deixar o seminário, e pela sua mesma ambição. A situação contingente certamente teve um papel importante na sua escolha; mas, na realidade, não demos perder de vista que o jovem Marello tem um temperamento independente e uma personalidade forte, que escolhe livremente sem condicionamentos. “Fiz para você um resumo dos recursos que pode ter o sistema revolucionário, e apresentei-lhe a questão social com estudos feitos seriamente. Oh! Queira Deus que assim como fui operoso e sagaz em examinar e percorrer as vias da iniqüidade, assim possa ter agora vontade e coragem...” (Carta 5) .
Fixemos a nossa atenção nas expressões “operoso e sagaz”: são dois termos que devem ser levados em conta. Devemos precisar que o nosso Fundador conhecia muito bem nossa língua italiana, a dominava seja no falar como no escrever com uma habilidade incomum, e escolhia cuidadosamente os termos que deviam ser usados,  valorizando cada palavra. Na prática o jovem Marello, na sua astúcia e esperteza pensou que deixando o seminário se realizaria mais como  homem, mas, justamente porque era uma pessoa reta e honesta, não podia viver no compromisso ambíguo: muitas eram as contradições de uma carreira mundana; todavia tinha todas as cartas certas para realizar-se na  sociedade. Apesar disso fez a sua escolha, inicialmente sofrida, mas depois clara e definitiva: Cristo! Cristo torna-se o conteúdo da sua existência; os projetos grandiosos de apostolado humanitário deixam o espaço para o apostolado católico. Numa ótica de fé podemos dizer que o Espírito Santo o eleva a um outro ponto de vista e de vida. Inicia para ele uma nova forma de ser e de existir, e tudo isto emerge claramente das suas cartas, das quais citamos os trechos mais eloqüentes.
Os anos que se sucedem aos acontecimentos e Turim, quando volta ao seminário agora com uma meta clara – o sacerdócio – são todo um laboratório, um fervilhar de obras. São os anos da transformação, da passagem do eu carnal ao eu espiritual, do eu humano ao eu cristão. Aos anos de indecisão segue os anos das convicções e da restauração da consciência: “Ideal de 1861, quando sonho de um futuro na sociedade me fazia saltar o Rubicão. Ideal de 1862 e 1863 em meios a emoções dos meeting das lojas maçônicas, das amizades políticas, dos trabalhos preparatórios, etc. Ideal de 1864 – 1865 dos dois anos de recolhimento e hesitação. Ideal finalmente que se aproximava a realidade de 1866 em meio da efervescência e do sentimento religioso renascente e, depois, na redescoberta das convicções e na restauração da consciência como tribunal competente...” (Carta 9). São os anos da vontade da coragem dos contra-projetos, das contra-estratégias, dos novos pontos de vista, do mudar – truncar – renovar – purificar. “Para depois ressurgir de repente para novas e mais sólidas convicções a uma fé mais bela e vigorosa” (Carta 5).
De tudo quanto foi dito, podemos afirmar que a sua “luta” não inicia na volta ao seminário, mas antes, e durante os anos de Turim que inicia a morrer ao eu mau, o eu do passado, o eu do velho sistema, para poder crescer e desenvolver o eu bom,  com a consciência com o homem velho não acabará nunca e a luta ao amor próprio e às paixões,  permanecerá sempre em aberto. “A cada instante sentimos recrudescer em nós o nosso mal de origem...” (Carta 8). A sua vida torna-se, então,  um contínuo e lento morrer as paixões, um desapegar-se de si mesmo para revestir-se de Cristo, entrar no  mundo de Cristo, adequar-se aos seus critérios e à sua vida. Essas premissas que encontramos nas Cartas Juvenis não são apenas simples desabafos de entusiasmo, que não encontra correspondência na realidade; são a base de um programa perseguido com humildade e com muita firmeza ao longo da vida do Marello.

2. O QUE DIZEM OS ENSINAMENTOS

Dizia em 1881, pregando os Exercícios Espirituais às Irmãs do Instituto Milliavacca; “Estudemos a vida de Jesus; toda ela é semeada de sofrimentos e de cruzes; leiamos a imitação de Cristo, justamente com o desejo de aprender na vida de Jesus” (Escritos).
Estudar para aprender de Cristo. Aqui também prestamos atenção aos termos utilizados: “estudemos”. O estudo implica necessariamente aplicação com método àquilo que se aprofunda; para que o nosso estudo seja produtivo devemos por em prática aquilo que estudamos. Como o camponês semeia e recolhe os frutos de seu trabalho, assim o estudo da vida de Cristo, em todos os seus aspectos, deve trazer os seus frutos com a pratica, porque estudar é como semear. Ler tantos ensinamentos da vida de Cristo e não agir é como ver uma bela árvore viçosa, mas sem frutos. O mesmo São José Marello acrescenta: “Jesus nos pede de segui-lo, de levar atrás dele a nossa cruz” (Escritos – Diário da Irmã Albertina Fasolis). Seguindo com a vida na obediência e no sofrimento, dirá ainda depois.E ainda: “Muitos são os exemplos que Jesus nos deu em sua vida,  mas o maior é com certeza aquele da sua cruz” (idem). Na homilia do domingo 02 de janeiro de 1887, ele aprofunda o pensamento Paulino. Infelizmente Irmã Albertina Fasolis resumiu tudo numa frase só, que é, depois a mais indicativa a respeito do Cristocentrismo da vida a centralidade de Cristo na vida cristã; leiamos: “Os mundanos desejam para si muitos anos de vida: o nosso augúrio seja aquele de viver em Jesus Cristo; sim, vivamos Nele e com Ele” (Idem). Não existem votos de felicidade mais bonito para o cristão que aqueles de estar e viver em Cristo, de viver Cristo para ter em Deus o próprio Tu.
Em 9 de dezembro de 1888 podia coerentemente exclamar perante a mesma irmã: “Oh meu bom Jesus ilumina a minha mente  para que eu te conheça; acende o meu coração, para que te ame e todo o meu ser seja consagrado a ti” (Idem). A Irmã compreendia perfeitamente esta linguagem. Viver Cristo é consagração total a Ele. É ele mesmo que reza ao Senhor para iluminá-lo, porque o conhecimento é indispensável para amar, para doar-se totalmente.
O Marello queria estar e estimulava os outros a estar com Jesus, a ser de Jesus, como Jesus. Conhecê-Lo, segui-Lo, amá-Lo para ser como Ele. Queria pertencer a Jesus, formar com Ele uma unidade só, realizar o relacionamento profundo, vital.
Esta aspiração não se baseia sobre um simples conhecimento doutrinal do Evangelho ou histórico,  aquele conhecimento que temos sobre os personagens históricos, fruto de leitura e de escuta, mas sobretudo conhecimento experiencial, fruto do estar juntos, do freqüentar, dos contatos. 
O conhecimento, quando é verdadeiro, torna-se amor, amor por Jesus, que pode levar o homem ou a mulher a não se casar por causa de Cristo. O conhecimento torna-se no Marello apostolado, vontade de levar aos outros Jesus, à comunhão com Ele. Um conhecimento que “acende o fogo”.
Ser como Jesus, este ser como Jesus, quer dizer empenhar-se no conhecimento constante. Isto significa não cessar de olhar para Jesus, de conhecer Jesus, não achando acabada a sua imitação.
À sua filha espiritual Bice Graglia, em 14 de dezembro de 1888, dizia: “Seja nossa preocupação contínua a imitação de Jesus, nosso Mestre Divino, e peçamos que nos torne capaz de ler claramente naquele grande livro da sua vida e de folheá-lo com cuidado da primeira a última página, para aprender as santas lições que Ele nos deu de Belém ao Calvário e saborear as arcanas belezas e os divinos atrativos, para que possamos subir mais facilmente e seguramente ao grande monte da santidade” (Escritos – conselhos a Bice Graglia).
Dois são os elementos que chamam a atenção neste conselho: o primeiro diz respeito à imitação de Belém ao Calvário: o Marello propõem uma imitação integral da humanidade de Cristo, que é uma grande lição desde o começo. Em segundo lugar podemos perceber que destas expressões ele propunha uma imitação de Cristo não descontínua, inconstante, reservada a momentos ou períodos de fervor particular, mas algo que penetrasse na cotidianidade das ações mais normais. A imitação de Jesus não tem “tempos fortes”.
                                                 
2.1          Um necessário parêntese

São José Marello foi muitas vezes apresentado como “o Santo da cotidianidade, da ordinariedade, da ferialidade”: todas as definições justas, que bem se adaptam à sua pessoa, mas que merecem alguns esclarecimentos.
Já afirmamos que o seu projeto espiritual foi de assemelhar-se sempre a Cristo, na cotidianidade nas ações mais normais, e quase a totalidade da nossa vida nunca sai do dever cotidiano e ordinário do nosso estado. É nesse dever “ordinário e cotidiano” que, segundo o Marello, deve ser cultivada as grandes virtudes e, sobretudo, as pequenas que fazem altaneira a árvore de nossa vida, na contínua fiel escuta da vontade de Deus: “Façamos momento por momento a santa vontade de Deus, segamos fielmente as pegadas de Jesus, aceitemos todos os atos de virtudes que se apresentam para cumprir na nossa caminhada com aquela serenidade de que é capaz o nosso coração e não tenhamos ilusões sobre o futuro que não esta em nosso poder. Vale mais o mínimo ato de virtude praticado no estado presente, que mil desejos e generosos projetos de uma santidade futura”. “Procuremos de santificar as pequenas coisas: um pequeno ato de paciência ou de caridade acompanhado pela reta intenção, torna-se de grandíssimo mérito da vontade de Deus” (Escritos-conselhos a Bice Graglia).
Não é necessário que pratiquemos sempre as virtudes que chamem a atenção e fulgurantes: basta que cumpramos a vontade de Deus momento por momento em todas as circunstancias. Aliás, muitas vezes será bom deixar outros exercitar tais virtudes naquela determinadas ações: assim fazendo nos poderemos praticar a humildade e a caridade. Jesus Cristo deve ser o nosso Mestre na prática das virtudes e também o nosso fim ao qual devemos interessar tudo o que fazemos” (Escritos – diário de Albertina Fasolis).
As citações acima selecionadas entre as numerosas sobre este tema, resumem bem esta faceta do Marello. Aquele que pode aparecer superficialmente a “santidade das miudezas”, a “santidade nas miudezas”, revela-se o exercício de virtudes a alto nível, que requer um constante trabalho sobre si mesmo. O Marello se jogou neste caminho desde jovem, e desde jovem teve claramente na mente alguns elementos que constituem necessariamente este programa espiritual:

a)               o “coeficiente”: Cristo nos nossos corações é um coeficiente infinito... e nós pobres cifras do nada podemos multiplicá-los gradualmente até a altura da cifras infinitas” (Carta 11).
Não nos assuste o pensamento de nossa pequenez, aliás, esta deve ser motivo de maior confiança naquele que é suplemento para tudo e para todos” (Carta 8). Das impressões que ele teve na leitura da vida de Santa Margarida Maria Alacocque leia: “o sacrifício do homem – Deus sobre a cruz é um grande coeficiente dos nossos sofrimentos e a sabedoria da Igreja quis que todo o nosso ato de adoração ao Pai fosse apoiado às dores do Filho Divino” (Escritos).
A consciência da pequenez e da miséria humana evidencia-se já a partir dessas citações extraídas das Cartas escritos Juvenis, juntamente à convicção que Cristo que faz a diferença; o homem é nada em comparação a Cristo, mas graças a Ele, pode elevar-se ao infinito, isto é alcançar os altos cumes da perfeição, impossíveis a serem conseguidos confiando somente nas forças humanas. È Cristo o fulcro e a chave, é Cristo a energia com o seu espírito, o coeficiente. Desde jovem se considera um “pobre cristão que deseja melhorar, mas que caminha com passo débio e vacilante. Para que escondê-lo” (Carta 8). Mas em Cristo não se apavora pela sua pequenez. Importante para ele é que seja Cristo a elevar-se, a exprimir-se Nele, e dominá-lo em todas as  circunstâncias de sua vida e como profundo conhecedor de Pascal eis que ele retoma uma frase deste autor: “Pascal- nada há sobre esta terra que não mostre ou a miséria do homem, ou a misericórdia de Deus - ou a fraqueza do homem sem Deus,  ou a potência do homem com Deus   (Escritos). A fé torna o homem poderoso.

b)           O sistema das “forças combinadas” – Tudo está no valor do coeficiente e, para o homem, cada ocasionalidade aparentemente acidental, cada fato, pode ser um coeficiente belo e bom. Feliz de quem sabe penetrar no íntimo das coisas. A aritmética é uma superfície, é a linguagem misteriosa de uma ciência da qual só são  conhecidos os pontos materiais. Dois Fatores  que se multiplicam, que se refundem e que se transfiguram num grande Produto: eis um fenômeno moral que pode ser a  base para um vasto sistema - o sistema das forças combinadas. Tudo é trabalho de combinação, aqui, e se eu não temesse cair na heresia, diria que o próprio Deus é uma combinação – a combinação primeira e última de todas as perfeições que se entrelaçam e se contemplam e se multiplicam e se elevam a um expoente e portanto a um valor infinito, Mas, permanecendo aqui embaixo: a música é combinação de áridas notas e sete vozes combinadas por Rossini [Rossini, Joaquim, - compositor italiano [*Pesaro 1792 - + Paris, 1868), autor de O Barbeiro de Sevilha (1816), Otelo, A Cinderela, Guilherme Tell, um Stabat mater e uma missa] – que é o mesmo que dizer sete fatores de  Rossini – dão um produto capaz de sacudir toda uma nação e de fazê-la prorromper num daqueles gritos de entusiasmo que não têm nome em nenhuma língua. Um pouco de mínio, de carmim, de sépia [tintas usadas pelos pintores: mínio é vermelho, carmim é vermelho vivíssimo, e sépia está entre o pardo e castanho], etc. bem combinados, isto é quatro por cinco fatores manejados por Sanzio [Sanzio – trata-se de Rafael (Raffaello) Santi ou Sanzio, dito. Pintor italiano (*Urbino, 1483 - + Roma, 1520]. Discípulo de Perugino trabalhou em Perúgia, Florença, Roma, e foi na corte dos papas Júlio II e Leão X, arquiteto chefe e superintendente dos edifícios. Sua arte revela, harmoniosamente, qualidades excepcionais: precisão do desenho, harmonia das linhas, colorido de delicadeza infinita] dão  uma Madona do paraíso. Alguns agentes químicos combinados como se devem, podem produzir o  fermento de toda a massa mundial, e poucas cifras entrelaçadas e depois novamente entrelaçadas daquele grande homem que era Newton revelam as leis da gravitação universal. Oh! Viva a combinação! Veja como Deus mesmo quis dar a sua sanção a esta verdade, ensinando-nos o modo de nos combinar (por quanto possível) com Ele, cimentando-nos com a sua própria carne. E se Gregório VII, filho de um pobre tanoeiro, chegou a abalar o mundo e a fundar uma nova civilização sobre as ruínas da barbárie é porque sentia a potência dessa combinação quotidiana com o seu Deus, e por isso se tornava, de homem que era, de têmpera quase divina. Ó Paulo, ó tu que antes de todos e melhor que todos soubeste exprimir as necessidades da pobre humanidade, tu o disseste que é necessária a combinação universal das forças, acrescentando depois aquelas palavras que eu quereria escritas com ouro: ut simus consummati in unum (frase de São Paulo que significa: para que todos sejamos confirmados na unidade). As “pobres cifras do nada” de que falava na Carta 8 e as forças combinadas na Carta 9 exprime uma visão positiva e unitária das numerosas possibilidades que o homem tem de ascender.

c)            O grãonzinho de mostarda – desígnio de Deus: lembremos a pregação que fez no Instituto Milliavacca em 14/02/1886 comendo a trecho de Mateus 13,31-39, é uma pagina maravilhosa que deve ser lida atentamente.

1.O que diz do grãozinho de mostarda? “O grão de mostarda é considerado como a melhor semente que é semeada na horta, todavia se desenvolve a ponto de se transformar em uma árvore; por isso retrata bem as pequenas virtudes, que podem produzir uma santidade. De fato os grandes santos alcançaram a sua santidade não tanto pela prática das virtudes extraordinárias, pois as ocasiões são raras, mas repetindo sem cessar as pequenas virtudes. Quanto pequenos atos de obediência, de humildade, de paciência, pode ser praticados por nós! Estas pequenas virtudes, não conhecidas pelos homens, mas muito gratas a Deus, fazem subir a uma alta perfeição e forma a árvore da santidade, cuja semente não é que um pequeno grãozinho... A decisão que devemos tomar é aquela de dar importância às pequenas virtudes, de cumprir momento por momento aquilo que Deus quer, no tempo, no modo, nas circunstancias que Ele determinou e estar com o coração tranqüilo e quieto. Com a certeza que como o Senhor guiou outros à santidade, guiará também nós (Escritos – diário Irmã Albertina Fasolis).
Jesus sempre comparou o Reino dos céus a algo de pequeno, aparentemente insignificante, mas, possuidor no interior de uma poderosa energia que lhe assegura o crescimento e o desenvolvimento que alcança metas acima das expectativas humanas.
Mas uma vez, vemos exaltadas as pequenas virtudes como meio privilegiado para caminhar na via da perfeição, juntamente com um convite claro a agir conforme a vontade de Deus. Aquilo que é pequeno, humilde e escondido, cultivado no silêncio é grato a Deus e multiplicado pela potência de Deus.

2) Projeto desígnio de Deus a ser executado: “É verdade que os santos, mesmo praticando as pequenas virtudes, desejavam coisas grandes; mas sempre em dependência da vontade de Deus.  Aquele que devendo executar um quadro, trocasse as cores indicadas, porque lhe parecem vivas demais ou pouco luminosas, e não aceitasse as indicações recebidas, não conseguia o efeito   pensado: mas se executa o quadro direitinho  com cores precisas que foram pré-fixadas pelo mestre então o quadro sai magnificamente e é louvado e contemplado por todos.Assim, se nós executamos com precisão o quadro espiritual que o Senhor traçou a nosso respeito não deixando de lado nenhum de nossos deveres também pequenos, praticando todas aquelas pequenas virtudes, naquela medida, naquela forma, naquela circunstancias que Deus quer, sem nada mudar, sem nada tirar ou acrescentar, então o nosso quadro sairá como o concebeu o divino artista e será contemplado e louvado não somente pelos homens, mas também por Deus e pelos seus anjos e santos. (Escritos – diário Ir. Albertina Fasolis).
Então a espiritualidade de nosso Fundador não se perde nas travessias da vida cotidiana, sem antes ter uma estrutura sólida sobre a qual construir; esta estrutura é e permanece o projeto que Deus tem sobre nós e que nós aos poucos descobrimos. Exercitar as pequenas virtudes não quer dizer perder de vista o desígnio espiritual de Deus sobre nós. Falando das pequenas virtudes o Marello tem bem presente o quadro espiritual, o projeto concebido pelo Artista Divino a nosso respeito, que deve ser realizado à perfeição, sem nada deixar, nem os pormenores. E prestar muita atenção à medida, ao modo, às circunstancias, aos particulares, às indicações. O quadro deve sair justamente como o concebeu o Divino Artista. Qual seria este quadro espiritual? Mas uma vez o repetimos: Para o Marello é a imagem de Cristo. Diz: “Peçamos a Deus a sua santa graça, especialmente nas pequenas coisas; nas coisas grandes e mais importantes já espontâneo pedir ajuda e, por outro lado, também nós naturalmente sentimos a repulsa em cometer pecados graves. Mas, é nas pequenas coisas que nós faltamos facilmente, porque não pedimos  suficientemente a ajuda de Deus; mas é justamente a perfeição nas pequenas coisas que pode tornar-nos santos... inspiremo-nos no exemplo de Maria  Santíssima Imaculada que praticou tão perfeitamente as pequenas virtudes, que a  levantaram depois a tão eminente santidade de grandeza. Contemplemos aquela inefável beleza da alma de Maria, a qual não é que um belíssimo quadro, que gosta de tantos pequenos pontos, todos perfeitos. A beleza de Maria de fato, se concretiza por tantas pequenas virtudes, mas todas tão perfeitas, que compendiadas na sua bela alma, a tornaram tão bonita e tão grande e tão predileta ao Senhor”   (Escritos - conselhos a Bice Graglia). O que fascina é também a versatilidade da sua mensagem, que vemos expressa de forma excelente também quando o nosso Fundador o adapta à figura de Maria. Tudo se concentra nas pequenas virtudes exercitadas de forma heróica, conscientes que Deus projeta e Cristo enaltece a nossa pequenez. A nós só resta que aderir a Ele, pedindo a sua graça.
Nas pregações, como nos conselhos dado aos seus filhos espirituais o Marello recomendava o conhecimento de Cristo, e ele mesmo o buscava no Evangelho. À Irmã Albertina Fasolis dizia: “Fazer de conta que exista só Jesus e a minha alma”.
Se relacionamos “ferialida-de”, “ordinariedade”,  “cotidianidade”, à consciência cristã do Marello, ao seu relacionar-se com Cristo, o conteúdo das palavras preditas aparenta ser muito mais rico de quanto possa querer dizer, de outro lado, a risca-se a cair na banalidade e superficionalidade.

2.2          O grande “sim”

 Todas as vicissitudes humanas e históricas de Jesus foram um “sim” ao Pai, à vontade do Pai. Um “sim” que é também uma resposta de amor ao Pai. Podemos aproximar esta imagem e sem forçar à espiritualidade Marelliana. Cristo para ele é a pessoa humana na qual se encarnou o Verbo de Deus, o Jesus de quem fala os Evangelhos,  e que quer fazer seu, desde Belém às tentações, ao batismo, ao anuncio, aos milagres, à oração, à aceitação da cruz e da paixão,  onde encontrou  o cume da adesão ao querer do Pai.
Marello procurou sempre à vontade do Pai e se esforçou para que toda a vida fosse vivida na vontade, no desígnio de santidade do Pai, dia após dia, momento por momento.
Em Turim disse o seu “sim” com generosidade a Deus; um grande “sim”, que determinou a orientação fundamental da sua vida. Como na anunciação, Maria disse um “sim” para sempre, renovado debaixo da cruz antes de entrar na glória, o Marello disse o “sim” até à morte, numa fidelidade a uma longa cadeia de pequenos “sim” quotidianos, nos quais se articulava concretamente o primeiro grande “sim”.
Nas impressões subidas na leitura de santa Margarida Maria  Alaccoque, escreve: “A nossa salvação pode acontecer a qualquer momento: não desprezemos o momento. Que valor tem o momento! Nele se comete o pecado e se reconquista a graça, nele se realiza o julgamento da nossa sorte eterna. Ó Deus dai-me este momento, que seja o primeiro elo da corrente que deve me conduzir a Vós. Ah, sim, Vós podeis dar-me neste mesmo instante em que escrevo. Loquere Domine: qual é o meu dever? (Escritos).
E no final dessas impressões, repete três vezes “Nunc coepi”. O momento é carregado de inspirações divinas, de uma vontade de Deus bem determinada, estritamente ligado ao dever e a ação quotidiana. Fecha assim as suas considerações do 23 de fevereiro de 1868: “Agora começo. Sim Senhor, o operário também pode tornar-se digno da recompensa na última hora. Agora começo: "ainda tenho  tempo" (Escritos). Falando de renovação e de propósito de perfeição escreve ao amigo Delaude: “Ó Senhor, ajudai-nos a dar este primeiro passo, que  nos introduza de  uma  vez na via da perfeição, até agora somente tocado de leve e  jamais resolutamente empreendida. Sim, ó meu caro Delaude, seja qual for o estado presente de  nossa consciência, temos necessidade urgentíssima de mudar de vida. Agora começo, diziam  os  nossos grandes mestres que  nos precederam  - repitamo-lo sincera e  firmemente diante de Deus ... o qual abençoa  o propósito de seus dois ministros - Pré-cruzados” (Carta 36). Escreve em setembro de 1875 ao um amigo sobre a necessidade de cumprir a vontade de Deus: “Nunc coepi”. Olho o passado como olhavam os santos, com  uma tristeza unida a uma alegria, que Deus tenha possibilidade muito grande de exercitar a sua misericórdia. Pensam no futuro com simplicidade e ao unido desejo de executar a vontade de Deus; de Deus que é tão diferente dos homens, de Deus cuja bondade nunca conheceremos a fundo, de Deus que diz’ in charitate perfecta dilexi te’ (te amei com amor eterno). Por isso, repitamos mais vezes possível este nunc coepi  com toda a fé e esforcemo-nos de crescer no amor” (Carta 88).
No quadro da perfeição, que consiste na “uniformidade à vontade de Deus”, todo momento é uma ocasião a ser desfrutada e deveremos dar contas a Deus; todo momento pode ser decisivo para o nosso destino eterno. Toda nossa vida “é uma corrente circular de graças, e cada elo é uma força de quem depende a nossa eterna salvação” (Carta 52). O Marello escreve estes pensamentos ao amigo Rossetti em 7 de outubro de 1869. Percebe que o seu espírito está fermentando algo que ainda não está totalmente claro. Será a inspiração de se tornar monge trapista? É um fato que o Marello vive mergulhado na vontade de Deus. É preciso força de caráter, são necessárias virtudes, e sabe que no caminho da perfeição não se pode ter instabilidade, mas cada momento é ocasião boa para desfrutar; de cada minuto, depende a salvação.
O grande “sim” de Turim determinou o forte e decisivo empurrão de purificação dos anos seguintes, e, à base de sua ascese, a guerra ao amor próprio, (“sentimos recrudescer em nós o nosso mal de origem...” (Carta 8); determinou a sua oração e a sua fé sempre confrontando com o eu do passado que o tinha colocado contra Deus. A fé foi a arma segura de sua batalha, olhar sempre fixo para com Cristo a quem atingiu atitudes e valores, a ancoragem à rocha “a vitória que vence o mundo” (1Jo 5,4-5). Viveu só para Jesus (Gal 2,20), revestiu-se dos mesmos sentimentos que se revestiu Jesus Cristo (Fl 2,5) na sua santíssima humanidade.


3. O CORAÇÃO DE MARELLO IMITADOR DE CRISTO

            Como afirmamos várias vezes, para o Marello Jesus foi o protótipo em tudo, porque na personalidade humana de Jesus viu o seu exemplo, o seu programa, o caminho espiritual e ascético, no qual se empenhou num crescimento constante. Por isso fixou a humanidade santa de Jesus, que quis reproduzir em sua vida. Leu o Evangelho página por página de Belém ao Calvário, fixando os traços ilimitáveis de Jesus, para uma humanidade cheia e uma clara santidade.
            Antes de tudo fixou “O CORAÇÃO” de Jesus. Quando uma pessoa é rica de humanidade, nós dizemos que “um homem de coração”. Assim o Marello via Jesus: amigo verdadeiro de todos. Amigo tenro, doce, forte; no seu coração tinha lugar para todos. Um coração apaixonado, misericordioso, generoso e munífico. Podemos dizer que o Marello olhava a sua conduta, comparando com aquela de Jesus, e da comparação nascia às decisões. Também o Marello, de fato, foi o homem da bondade, da caridade, do perdão. Sabia amar, compreender, perdoar, ser doce, calmo, paciente,  nada cedendo ao sentimentalismo. “Seja Jesus o suave vínculo dos  corações, diante de Jesus desaparece todas as considerações humanas  e nós, então, encontramo-nos mais estritamente unidos àquelas pessoas às quais estamos ligados pelo afeto e pelo reconhecimento por causa dos encorajamentos e dos bons conselhos recebidos, e a todos aqueles que são como nós animados pelos desejos de servir fielmente ao Senhor e de um dia ir amá-lo e gozá-los no céus, na glória eterna dos santos”  (Escritos). Dava este conselho a Bice Graglia  em 18 de janeiro 1889. Durante os exercícios espirituais pregados em 1881 às Irmãs do Instituto Milliavacca, dizia, falando da caridade: “Jesus teve o grande cuidado de excluir da sua caridade toda aparência de sensibilidade ou de simpatia ou de acepção de pessoas, fazendo-se tudo para todos, mas tendo em mira unicamente o prazer e a glorificação do seu Eterno Pai” (Escritos – diário de Albertina Fasolis). Pouco antes dizia que o atrativo sensível atrapalha e corrompe a caridade a simpatia não deve ser favorecida. A caridade é perfeita quando inspirada por motivos sobrenaturais. Tinha “coração”! Era um “homem de coração”.  Amava, também com afeto e ternura, generosamente e pacientemente. Escrevendo as impressões que teve na leitura da vida de Santa Margarida Maria Alaccoque, afirma: “Brilha naquela vida o ideal do sacrifício e da abnegação, da esperança e do amor. O tem o coração para amar e um corpo para sofrer”(Escritos). Entre os Fragmentos de 1867 a 1869 encontra os estes: “Ama – o coração de quem sente o amor é um paraíso sobre a terra, tem Deus dentro de si, porque Deus é amor. Ama, mas com um amor ordenando e santo”. (Escritos).
            Amava profundamente e com ternura os amigos e este amor o declarou abertamente, como abriu a eles o coração numa amizade firme, vivaz, fiel, tenra; testemunha disso são todas as suas cartas. Era uma personalidade empática, ou seja, capaz de compaixão, de dom, de sacrifício, de acolhida, de hospitalidade. Qualquer pessoa perto dele ficava a vontade.

3.1. Uma mina de ensinamentos que brota do coração.

  É só lendo e meditando os “Ensinamentos”, que podemos ter uma idéia do “coração” do Marello. Vamos trazer aqui alguns textos significativos: não são um tratado, nem uma catequese, mas evidencia característica particulares da espiritualidade do Marello “homem de coração”. “Quando sentimos o coração duro e enraivecido, vamos procurar um pouco de doçura no Coração de Jesus” (Escritos).
“Em certas adversidades e penas, nas quais nos parece que o nosso coração goteje sangue vivo, de tão violento esforço que devemos manter, pensemos também, na imensa desproporção que existe entre a agonia do nosso coração e a que Jesus sofreu no horto, quando suou sangue vivo por todo o corpo... amiúde, levemo-nos espiritualmente para assistir a agonia mortal do coração de Jesus e experimentemos confortá-lo com o nosso ardente amor. Unamos ao copiosíssimo, precioso e real derramamento de sangue de nosso Jesus, o pobre e mesquinho derramamento místico do sangue que jorra do nosso coração nos momentos de sofrimentos, e este, de pobre, mísero e mesquinho, torna-se rico abundante e precioso aos olhos de Deus ”(Escritos – conselhos a Bice Graglia).
Vós, São José que foste tão humilde e tiveste a alegria de viver em companhia de Jesus, observando tudo aquilo que ele fazia, falai-me ao coração e fazei-me aprender tudo da vida de Jesus, tão santa e tão por vós imitada” (Escritos – diário de Albertina Fasolis).
Os fariseus, tendo um coração duro e orgulhoso,  morriam de inveja porque viam Jesus entreter-se tão amavelmente com os pecadores. Não devemos fazer como eles, mas ter um coração cheio de benignidade para com nossos irmãos.Ora, para ser benignos devemos ser mansos e humildes de coração, sendo a humildade a irmã da mansidão. Coragem, então, amemos o próximo compadeçamo-nos dele, prometamos humildade de mansidão, mas aprendemo-la de Jesus, aliás,  atingimo-la dentro do  seu coração” (Escritos – diário de Albertina Fasolis).
A peculiaridade destes textos citados está no fato de contém a palavra “coração” repetida mais vezes. Tal insistência não pode ser certamente fruto de estéreis  sentimentalismos, mas exprime uma visão de fé unida também à dimensão afetiva. Disso brota o impulso a uma imitação dos aspectos humanamente mais “doces”  da atitude de Jesus. Certamente o Marello seguiu esta trilha e a indicou também a seus filhos espirituais. É por isso que aconselha atingir doçura do coração de Jesus, quando a ira toma conta,  ou seja, tomar exemplo da sua serenidade e doçura para com todos; assimilar nossos sofrimentos á Paixão de Cristo, nos ajuda a redimensionar os nossos sofrimentos,  e a “confortar Jesus com nosso ardente amor”, nos faz sair do nosso individualismo. Muito interessante é também o convite a acolher os outros com humildade e mansidão, atingindo sempre à única fonte: coração Jesus. 
“Infelizmente, nós temos um olhar atento para perscrutar e condenar o próximo, mas estamos sempre prontos a justificar nós mesmos. Isto  porém,  é contrário à caridade,  à justiça, porque assim fazendo nos usurpamos um direito que é somente de Deus, aquele de julgar os outros, enquanto descuidamos aquele que é não só um nosso direito, mas também um gravíssimo nosso dever, isto é julgar a nós mesmos” (Escritos – diário Albertina Fasolis).
Nas divergências de critério, em  julgar um jeito de fazer as coisas, que a nós parece ser feitas de forma errada, enquanto,  outros acham que foram bem feitas, precisa ceder e não querer fazer triunfar a razão em detrimento da caridade e da humildade” (Escritos – conselhos a Bice Graglia).
São José Marello não descuida de nenhum aspecto da imitação de Cristo.  A imitação do “coração” não é expressa por conceitos abstratos, mas enraizada no imediato, no quotidiano, e simplificada, com exemplos de situações práticas que ele mesmo fornece. É aquilo que podemos perceber nos textos citados acima.
O amor se nutre de sacrifício de dores e de penas; o amor é mais forte do que a morte. Ninguém praticou a caridade mais que Maria Santíssima, porque ninguém mais do que ela sofreu” (Escritos - diário de Albertina Fasolis).
No seu realismo, e na sua concretude o nosso Fundador não escondia também os aspectos mais duros de amar: o sofrimento, que aqui vemos associado à figura de Maria.
Todos estes pensamentos e conselhos nascem de um relacionamento vivo com pessoa viva, do coração de um homem que não deixava perder nem uma virgula das Palavras que Deus, como semente semeava no seu coração. “O bom Deus - dizia no domingo 08 de fevereiro de 1885, comentando a Parábola do Semeador (Lucas 8,4-15) – quase deixando a sua real bem-aventurança, continuamente espalha em nosso coração a boa semente da sua Palavra. Não devemos deixar perder nenhuma parte, mas deixar que tudo cresça em nós”. (Escritos - diário de Albertina Fasolis).
É fácil constatar que vivia efetivamente aquilo que dizia: “Pensamos sempre em Jesus a todos os relacionamentos que temos com Ele, a todos os acontecimentos e mistérios da sua vida, do nascimento até à ascensão, e procuremos celebrar bem  e santamente todas as suas festas... olhemos a Jesus como irmão, como amigo, como Mestre, como juiz” (Escritos - diário de Albertina Fasolis).
            Numa pregação em 24 de agosto de 1884 dizia: “ São Paulo amava com tanta doçura e com tanta firmeza, que dizia querer ser anátema para que todos fossem a Cristo e estava pronto a padecer todo o sofrimento pelo bem do próximo. Vocês me dirão: como fazer para amar Jesus Cristo? Eu vos responderei como Santo Agostinho: Experimente amar... experimente amar...” (Escritos - diário de Albertina Fasolis). Ou seja, experimente ter um coração como aquele de Jesus. Amando o próximo, damos prova de amar a Deus: amando como o amava Jesus. E se alguém ama verdadeiramente o próximo, quer dizer que arde de um grande amar de Deus, porque não poderia ser de outro modo, porque somente Jesus no-lo pode conceder, tendo vindo sobre a terra para trazer  o fogo e quer que se ascenda para poder reinar nos corações. A caridade, do Senhor amor para com o outro porque Filho de Deus dava ao amor do Marello outras possibilidades. Era um terreno fértil que acolhia o Amor de Deus e Deus mesmo acrescentava todas as potencialidades, que o Marello já tinha como dom natural de temperamento: acolhida, paciência, compreensão, perdão, fidelidade, devoção, solidariedade para o necessitado. Esforçava-se de viver bem o que encontramos na I. Carta aos Corintios 13,4-07. O Espírito Santo trabalhava bem no seu coração, purificando e harmonizando todas as suas dinâmicas afetivas.
            Amava verdadeiramente, amava a todos, e cuidava continuamente que o seu amor em cada aspecto, nunca perdesse a origem e a orientação. Sabia que vinha do coração de Deus e levava Deus, verificava o seu amor em Cristo. Na festa do Sagrado Coração, em 10 de julho de 1888 afirmava na pregação no Instituto Milliavacca: “O nosso coração tem como que duas tendências, uma que o leva para o alto a outra para baixo, as mesmas tendências que reconhecia em si mesma o apóstolo Paulo. Pois bem, ofereçamos a Jesus o nosso coração todo inteiro e Ele, colocando-o no seu coração, consumará tudo aquilo que nele existe de mal, purificando e aperfeiçoando quanto tem de bom” (Escritos - diário de Albertina Fasolis). Fraco, frágil, sabia que tudo era dom de Deus, também a caridade, e isto o conduzia a louvar, a glorificar, agradecer Deus. Pensamento de gratidão e reconhecimento recorre muitas vezes nos seus ensinamentos. O “Deo Gratias” está sempre nos seus lábios. “ Assim São Vicente de Paulo, que muito em variados modos exercitou a caridade para com o próximo, nutria no seu coração uma chama ardentíssima de amor  a Deus que o empurrava a responder, beneficiando o próximo, da mesma maneira que o Senhor tinha feito para com ele”  (Escritos - diário de Albertina Fasolis).
            Como se ama Deus de verdade? No-lo ensina Dom Marello no domingo 24 de agosto de 1884 comentando a parábola do bom samaritano (Lc 10,23-37): “Amemos Deus com todo coração, sem subtrair a Ele nem uma partezinha ou um átomo do nosso coração. São Francisco de Sales, dizia que: se soubesse que uma só fibra de seu coração não pertencesse a Deus, a teria arrancado de si. Amemos Deus com toda a alma, isto é, submetendo em tudo e por tudo a nossa vontade à vontade do Senhor. Amemos Deus com todas as nossas  forças, empregando ao seu serviço as nossas capacidades internas e externas e todas as energias, os talentos que ele nos deu: pregando e trabalhando, fazendo tudo por Ele, solícito sempre não das nossa comodidades e prazeres, mas do serviço da glória do agrado de Deus, fazendo enfim um sacrifício absoluto, um holocausto completo, uma constante imolação de nós mesmos ao Senhor” (Escritos - diário de Albertina Fasolis).
            O Senhor gosta que nós tenhamos o coração como o seu e veio para ensinar-nos a conquistá-lo.

Artigo Publicado em Marellianum nº47 –  Ano XII Julho – setembro 2003
Tradução Pe. Mario Guinonzi, osj