ESPÍRITO SANTO NO ENSINAMENTO, NA VIDA E NA OBRA DE SÃO JOSÉ MARELLO

Ano Marelliano
Artigo da Semana

ESPÍRITO SANTO NO ENSINAMENTO, NA VIDA E NA OBRA DE SÃO JOSÉ MARELLO
Pe. Paulo Moni, osj


1. O ENSINAMENTO

Assim Dom Marello descreve a PROMESSA E A MISSÃO do Espírito Santo (21  maio 1887):
“Quantas transformações opera o Espírito Santo nas almas! Vejamos em S. Pedro: ele era antes tão fraco, inconstante, medroso, egoísta, que o Divino Mestre teve que muitas vezes admoestá-lo e repreendê-lo: mas depois que recebeu o Espírito Santo, como se tornou forte, corajoso, intrépido e cheio de caridade para com os seus irmãos. O Pai em primeiro lugar realizou a criação, quando com um “Fiat” criou do nada todas as coisas; o Filho realizou a segunda criação redimindo-nos do pecado merecendo-nos a graça, que é como que uma segunda vida, a vida sobrenatural, infinitamente mais preciosa daquela natural; mas a obra do Filho se limitou no período de sua vida mortal e não renovou a face da terra, sendo restrita, por assim dizer, aos poucos discípulos; a terceira criação é própria do Espírito Santo, que é o Espírito de santificação: Ela dura por todos os séculos e é destinada a renovar a face da terra, santificando as almas, e criando, por assim dizer, homens novos, como diz São Paulo!”
Todos devemos meditar sobre os escritos e sobre as palavras do Fundador e  compreender, como ele tinha entendido, a missão do Espírito Santo na Igreja e que ele queria inculcar nos seus discípulos. A insistência  com que ele fala, deve levar-nos a meditar com muita atenção estas páginas e preocupar-nos pela distração que muitas vezes tomou conta de nós em ler as mesmas. A energia de suas palavras nos faze entender que o Fundador tinha convicções que tocavam a profundeza de seu espírito e que desejava transmiti-las aos seus filhos. Parafraseando e comentando as palavras de Jesus na última ceia, dizia: ”Quando o Espírito Santo terá vindo e serão convencidos da verdade, porque Ele é a  mesma  verdade, a luz que ilumina todas as mentes e irradia o céu e a terra com o seu esplendor, é espírito de fogo porque acende com o fogo divino da caridade, todos os corações, e é centro do mais intenso amor: é espírito de ordem que  reflete a harmonia infinita que reina no Paraíso: é espírito de alegria e consolo, que alegra e consola, sendo Ele como que um canal que comunica todos os bens, como um orvalho que conforta e sustenta nas batalhas e na aridez do Espírito Santo” (III- 345).
Estas expressões são cheias de um valor e de uma luz que nos coloca no caminho da experiência vivida pelo nosso Fundador. Não se trata com certeza de palavras comuns ou repetidas  com fastio: quem fala com este ânimo vive na sua interioridade  a Presença e o influxo do Espírito Santo. Não se trata somente de repetir uma doutrina teológica, mas de fazer a experiência dela: as verdades devem passar da mente ao coração; do  intelecto ao centro  interior da personalidade, bem no centro da consciência e da existência. No seu ensinamento o Fundador, procedia, todavia, por passos.

Promessa do Espírito Santo
“Foi nos últimos dias de sua vida mortal, que Jesus se dirigiu aos Apóstolos dizendo: ‘Eu vou ao Pai meu para que possa descer sobre vós o Espírito Santo’. Jesus tinha falado muitas vezes do Pai. Até tinha falado dele com Maria e José, quando aos doze anos tinha ficado no Templo e disse a eles: ‘Quando o Pai manda, precisa obedecer’”.
Jesus então queria Ainda uma vez falar aos seus discípulos das coisas celestes e disse a eles: “Se eu não for ao meu Pai, não poderá descer sobre vós o Espírito Santo. Eu irei ao Pai, o reconciliarei convosco, estabelecerei uma íntima relação entre Ele e os homens e do imenso amor que reina entre Pai e Filho, sairá aquele sopro de amor que descerá sobre vós, o iluminador, Espírito de verdade, iluminará as vossas mentes, dilatará vossos corações, e vos fará compreender as coisas celestes!” (Pág. 345.III).  O Fundador deseja que nós, seus filhos, sejamos iluminados e aclarados na mente que a presença do Espírito Santo dilate nossos corações; e é  urgente que nos coloquemos neste caminho.
Não podemos considerar seus ensinamentos somente como uma lição de teologia teórica, mas como uma experiência fortemente interiorizada daquele que o Espírito Santo escolheu e chamou a abrir uma estrada na qual outros crentes teriam que caminhar. Estes crentes somos nós, OS OBLATOS DE SÃO JOSÉ. Nós, seus filhos, não temos como escapar de fazer esta experiência, desmentir ou trair o seu CARISMA de Fundador. É urgente que nos aproximemos do Pai com uma disponibilidade sincera e total para colher seu segredo espiritual; e isto é também DOM do Espírito Santo: ”nós não podemos realizar um só ato de virtude que não seja obra do Espírito Santo. Quem coloca em nosso coração aquele gosto que experimentamos na oração, aquele estímulo que sentimos na aquisição da virtude, aquele desejo de alegrar Deus mortificando os nosso sentidos?” (III-345).  O nosso Pai celeste, faz experiência no íntimo da própria alma e na seqüência dos seus dias, destes impulsos quer que também nós sejamos atentos e abertos e sensíveis ao Espírito Santo. O Espírito Santo opera ainda hoje como sempre, em nós singularmente e nas nossas comunidades, mas com a condição que estejamos permeáveis, e plasmáveis. Não podemos absolutamente pensar que o Espírito Santo tenha operado e influído uma vez só sobre os Apóstolos ou sobre o Fundador e que hoje nos abandone à nossa inquieta inteligência. O verdadeiro rosto do Fundador nos será desvendado somente pelos refletores do Espírito Santo, como é  também verdade, que somente com a força que provém do Espírito Santo poderemos reviver as suas virtudes e obras. “Dois amigos quando se encontram exultam, mas depois devem se separar; a alegria deles é condicionada a uma circunstância, um lugar; o Espírito Santo, pelo contrário, se comunica conosco com a sua alegria em cada tempo e lugar”(315.III). E ainda: “É uma presença ativa e estimulante... por isso precisa rezar; é necessário rezar para que muitas almas o acolham e as almas  mornas que são dominadas pelo outro espírito: aquelas que tem ódio no coração”. O mesmo fato que nós estamos aqui meditando sobre seu ensinamento, e dedicamos tempo e  inteligência, é com certeza um sinal que o Espírito Santo se infunde sobre nós e sobre a Congregação. O Fundador nos  lembrou: “O  mesmo desejo de receber o Espírito Santo é já um movimento produzido em nós pelo Espírito Santo”. Se o nosso Fundador nos doa este ensinamento e nos oferece esta experiência de vida espiritual, tomamos consciência que não podemos ser seus filhos, ignorando a ação do Espírito Santo o relegando-o numa posição subalterna aos nossos projetos. “Nossa vida é marcada por um DOM DO ESPÍRITO SANTO, O CHAMADO À SEQÜELA DE JESUS”; não é um chamado à solidão, mas à comunhão numa comunidade que toma inspiração do Espírito Santo através dos carismas difundidos no espírito do Marello na imitação de S. José.
O que conta para realizar esta vocação (chamado) não é aquilo que nós pensamos, o que nós projetamos ou o que inventamos, mas aquilo que quis inventar de novo na Igreja o Espírito Santo através de José Marello e hoje através de nós que nos tornamos, NAS SUAS PEGADAS, os humildes mas espertos  colaboradores do Espírito Santo. Devemos então entrar na experiência do Espírito Santo não porque nós alcançamos a Ele, mas porque Ele, o Espírito Santo, alcançou a nós por meio do Fundador. A ele doou aquilo que continuamente nos ilumina:  O CARISMA DA FUNDAÇÃO, para que nós fôssemos os continuadores do projeto, nos trilhos  traçados pelo mesmo Espírito Santo.


Quando falamos do “Espírito do Fundador”, o que entendemos?
Não entendemos talvez a sua atitude mais autêntica e mais profunda na escuta e na execução do projeto que Deus lhe confiava para si e para seus filhos futuros? Ora, sua atitude era de total obediência aos sinais do Espírito Santo, imitando a disponibilidade, o amor de S. José no serviço de Jesus e de Maria. Temos meditado sobre a missão de S. José, sobre o amor, a disponibilidade, sem limites, sobre o serviço fidelíssimo, a prontidão e dedicação em toda circunstância à vontade do Pai. E então é necessário conhecer  também a experiência do Santo Fundador para recuperá-la não só como estudo ou teoria, mas  de  existência, de experiência, e de vida prática.


2. A EXPERIÊNCIA DE DOM MARELLO

“Quem é que nos coloca no coração aquele gosto que sentimos pela ORAÇÃO?”. Não é fora de lugar nem fruto da fantasia pensar que esta seja uma janela aberta sobre a sua intimidade mais recôndita. O Fundador conhece pessoalmente o que significa o gosto pela oração, estímulo e desejo que nascem certamente da ação do Espírito Santo. Conhece a tentação e a luta e nisto é humano; mas sabe por experiência e o confessa que... é  exatamente nestes momentos que o Espírito Santo vem em nosso socorro e nos ajuda na luta não abandonando-nos ate que não tenhamos derrotado o inimigo... Eis a dinâmica da experiência espiritual: LUTA E CONSOLAÇÃO:  mas a vitória é FRUTO DO ESPÍRITO SANTO.
E eis ainda a experiência  concreta, vivida, experimentada: “Nos acontece às vezes de gozar de uma PAZ TÃO PROFUNDA, DE UMA ALEGRIA TÃO SUAVE E INEFÁVEL: o testemunho da boa consciência nos deixa numa alegria infinita, tudo nos sorri, tudo nos alegra e nos parece de  gozar uma antecipação das alegrias celestes” (III 346).
Depois de novo a dúvida e a tentação e as TREVAS, o sofrimento interior, mas não devemos render-nos. Eis que muitas vezes nos olhamos ao redor e descobrimos que razões para ser pessimistas e céticos temos bastante. Que fazer? Como sair? Como superar nosso limites? Nossas frustrações? Eis a voz do nosso Pai que experimentou momentos de escuridão, de silêncio de Deus, a “Noite dos sentidos e do Espírito”: “Quando nós também nos encontremos na luta privados de toda boa ação, aliás tomados por uma repugnância a lutar para colocar-nos no bom caminho, não devemos  angustiar-nos  e justamente nestes momentos que Jesus nos quer provar, fazendo-nos operar somente pela fé“(347). “Quando o Espírito Santo vê nossa fraqueza, se insinua no nosso coração e com santas inspirações com luzes celestes, com motos internos, procura acordar-nos, revigorar nossa fé, aclarar nossa mente, dilatar nosso coração, recolocando a alegria e a paz em nossa alma” (346. III).
O Espírito Santo não nos deixa sozinhos; está conosco e em nós (Jo 14,18). O Espírito Santo continua a doar-se: o nosso Fundador vê o Pentecostes como um evento perene e contínuo para cada um de nós. Falando-nos, desperta nossa atenção sobre a responsabilidade da nossa abertura à sua ação: ”É verdade que o Espírito Santo o recebemos todos na confirmação que nos tornou cristãos perfeitos: mas depois nos comportamos como cristãos perfeitos? Eis que temos necessidade de uma grande comunicação do Espírito Santo” (280-III). Hoje a chamaremos de “EFUSÃO”. O nosso Pai a chamava ”COMUNICAÇÃO”; mas a essência não muda. Rezemos então para que o Espírito Santo venha nos nosso corações. Ele diz: “Dilata os tuum et implebo illud: abre bem a boca do teu coração e a encherei”, e nós façamos  tudo para poder dizer de verdade:” os meus  aperui et attraxi spiritum”: abri a boca do meu coração e atrai o Espírito Santo” Mais adiante o estímulo se faz mais urgente e vibrante: “Tiremos do nosso coração aquilo que sabemos dá desgosto ao Espírito Santo; então ele descerá e preparará o lugar... estejamos recolhidos em oração com Maria Ssma. E o Espírito Santo se comunicará a nós na abundância de seus sete dons” (280.III).
“Preparemo-nos bem à vinda do Espírito Santo. Peçamos aos Apóstolos que deixem um lugar no meio deles no Cenáculo para que nós também possamos acender-nos de fervor na espera do Espírito Santo: recebê-lo  com plenitude, e ser por Ele totalmente transformados” (III 236).
Esta transformação acontecia e se percebia no nosso Fundador e se manifestava na sua vida interior e na sua vida Apostólica.
É uma experiência que  talvez se esconde na rotina do cotidiano e do dia-dia, mas que  se revela nos seus escritos ou na sua pregação que  é espelho de sua interioridade. É a experiência da oração de quietude, de silêncio, de escuta ou de união, que não pode ser contada aos outros  a não ser por aquele que a vive.
Dom Marello viveu esta experiência de recolhimento e de contemplação para podê-la  apontar e ensinar aos seus filhos. “O Espírito Santo inspira Ele quando quer e da forma que Ele quer e nós devemos ser dóceis às suas inspirações. Quando então nos encontramos recolhidos à presença de Deus, que todos nos absorve e nos concentra e nos torna passivos ao ponto de não poder mais formular um só pensamento, pois bem nada de inquietação porque não podemos fazer a oração vocal, e a meditação, mas sejamos dóceis aos movimentos do Espírito Santo. Fiquemos neste estado até que nos sintamos atraídos. Esta é a verdadeira oração, enquanto  a oração vocal  e a meditação nada mais são do que um subsídio para alcançá-la” (201-III). Uma análise até breve dos vocábulos usados pelo Fundador, que manuseava bem a língua, nos ajuda a compreender que aqui se alcançam as alturas e as profundezas da contemplação infusa. Deus “CONCENTRA”  e “ ABSORVE”  e “ TORNA PASSIVOS”; o que querem significar estes três verbos se não que o Marello fez uma experiência da oração  “PASSIVA”,  conduzido pelo Espírito Santo aos píncaros da contemplação? É quanto  S. João da Cruz exprime falando da íntima união com Deus: “Se no passado você tinha motivos para meditar e então meditava, agora pelo contrário devem ser tirados e deve ser proibida a meditação... no estado em que se encontra não deve absolutamente meditar ou exercitar-se neste ato de piedade, ou de buscar gostos e fervor, pois seria  colocar obstáculo ao agente principal que como falei é Deus” (Obras de S. João da Cruz). O Marello afirma isso com palavras mais cotidianas, mas igualmente  fortes: “Quando o fogo arde, não precisa mais colocar lenha; assim quando nos encontramos de tal modo absorvidos por Deus, não se faz necessária a oração vocal e nem alguma consideração para subir até Deus”   (211.III).
E percebe-se que o nosso Fundador está falando da própria experiência pessoal não de coisas lidas em livros. Tal experiência a repassou aos seus  discípulos que crescendo na escola sua se nutriram do seu ensinamento e de seu testemunho vivo. E que ele conseguiu transmitir a experiência de oração contemplativa é confirmado pela vida e exemplos dos seus primeiros filhos que por sua vez a transmitiram a nós filhos da segunda e terceira geração.

III. A EXPERIÊNCIA DOS PRIMEIROS DISCÍPULOS

Sinto e penso que seja minha tarefa e dever dar um testemunho de tudo o que vi e aprendi da vida dos nossos primeiros padres, os primeiros filhos do Marello. A graça do Senhor me fez Oblato de S. José e me fez viver perto dos primeiros padres que tiveram a sorte de conhecer o fundador ou os primeiros filhos espirituais. Posso dizer que conheci as grandes raízes da Congregação que sugaram a linfa da grande árvore que foi o Marello: eram homens feitos de oração; construídos de oração: não digo homens que rezavam: mas feitos de oração, que viviam Deus, o respiravam e o  transfundiam, o comunicavam com os seus gestos mais autênticos. Nada de artificioso; sem forçar; nenhum esforço fora do comum; eram impregnados de Espírito Santo. É com grande veneração que os lembro, aliás os revejo, com muita gratidão; eles deixaram em minha lembrança e existência um marco indelével: Pe. Garberoglio, que foi Reitor-Mor e Vigário Geral; Pe. Luís Mori, meu Pai espiritual nos anos da teologia; Pe. Bartolomeu Pozzi, ilustre mestre de Moral e Espiritualidade; Pe. Mario Viola um autêntico Santo, quando rezava  de joelho no meio de nós rapazes e clérigos, nós líamos no rosto a doçura da contemplação; Pe. Franchini: quem poderá contar a doçura do trato, a amabilidade do sorriso, a prontidão ao serviço? Pe. Savino Vivaldi, o cantor entusiasta de Deus e da criação, simples como uma criança e forte como uma rocha; Pe. Luis Rosso, teólogo finíssimo e inspirado Diretor de almas; Pe. Mario Martino, heróico em suportar a cruz da humilhação; Pe. Lourenço Franco forjador de consciências, mestre de noviços por mais de 40  anos transmitindo às novas gerações os ensinamentos do Fundador com o testemunho vivo de sua vida interior. Não posso esquecer Pe. Francisco Brignano, austero formador  de almas ainda hoje lembrado em Nuoro por quantos o conheceram como homem de Deus no qual transparecia a presença de Deus como em um vaso puríssimo de alabastro. Estes espíritos grandes que tivemos a sorte de conhecer e venerar, atingiram alguns diretamente, no coração do Marello o amor à vida espiritual, à oração, ao desapego dos sonhos e  ilusões, outros viram encarnado o Ideal Oblato nos primeiros exemplares grandes como Pe. Medico, Pe. Cortona, Pe. Lourenço, Ir. Felipe. Não é exagerado nem exaltação dizer que temos na raiz do nosso Instituto homens de Deus prontos à voz do Espírito Santo, disponíveis a qualquer sacrifício para o serviço de Deus e dos irmãos.
Temos em nossa raízes a linfa vital do Espírito Santo que nutriu o nosso Fundador e os primeiros irmãos de S. José que na sua escola se tornaram humildes e grandes Servos do Senhor. A esta escola nós também somos chamados. A nossa Congregação pequena, desconhecida, sem vistosos reconhecimentos e placas humanas, tem uma tarefa na Igreja de Deus, aquela de  reviver o clima espiritual da Casa de Nazaré, onde não tinha importância o número mas a qualidade dos membros e a dinâmica  do Espírito Santo. O Espírito Santo conduziu a viver juntos José e Maria para acolher Jesus; os três juntos, iluminados, cada um segundo a sua vocação e grandeza, pelo Espírito Santo, serviram e amaram o Pai. Nós guiados pelo Espírito Santo temos a missão de plasmar as nossas almas no modelo de S. José, segundo o ensinamento  do santo Fundador e de concorrer a formar as almas sobre este modelo.
É uma grande obra QUE NOS É CONFIADA POR Deus na Igreja. Não é obra para pessoas fracas ou egoístas ou para  pessoas preocupadas com medalhas, placas e carreira ou de promoções. É o Fundador que nos diz: ”Não cansemo-nos de invocar o Espírito Santo e de suplicá-lo constantemente que venha morar em nós e a fazer morada estável na nossa alma. Não contentemo-nos de pedir pouco mas sejamos  corajosos e peçamos de operar milagres, de fazer severas penitências, e outras coisas que  vencem o mundo. Oh! não, não são estas coisas que fazem progredir na santidade, mesmo que aquelas vitórias sobre o amor próprio e sobre as paixões  que nos custam violência e tantos esforços... Estes são os atos que mesmo ocultos aos olhos do mundo, nos tornam grandes perante os olhos de Deus“ (148-III).
Nas origens da Congregação tem então um Fundador Carismático, que  teve como dom a iluminação do Espírito Santo, tão forte  e decisiva que foi levado a  seguir os Conselhos Evangélicos e a instituir a pequena Companhia de S. José.  A assistência e a ação do Espírito Santo conduziu o Pai Fundador até a prática heróica das virtudes  e lhe  inspirou a Fundação de forma as responder aos sinais dos tempos.  
O Carisma da Fundação desenvolve nele aquela atitude ritual que entra em sintonia com o Carisma de S. José: amor incondicional a Jesus e Maria, partilha do cotidiano na contemplação e no trabalho apostólico com os pobres, como José a Nazaré, sem almejar lugares de honra, sem buscar reconhecimentos, silenciosa adesão aos interesses de Jesus e dos irmãos, acolhida aos pobres e testemunho de um real e completo desapego dos bens terrenos, tornado quase palpável na vida dos Fradinhos no Michelério e na primeira casa em Santa Chiara; busca de instrumentos humildes, sem tocar trombetas, na evangelização dos simples, das crianças e jovens; vontade de escondimento no operar o bem, sacrifício amoroso de si mesmos; confiança e abandono à vontade de Deus.
Tudo isto  chama-se  Carisma do Fundador e Dom do Espírito Santo a nós seus filhos através do Pai Fundador, sob o olhar paternal de S. José, que era colocado como modelo sem igual.
Tudo isto é Graça que se realizou na história mais de um século atrás e  faz  parte da maior e mais vasta história da Salvação; e que pode ser  recapitulada num testemunho histórico bem claro: São José Marello
I) ORIGEM E PROVENIÊNCIA DOS CARISMAS DO ESPÍRITO SANTO, sobretudo o carisma da paternidade espiritual e do discernimento das pessoas e dos instrumentos.
II) O ardente desejo e a disponibilidade de deixar-se plasmar no modelo Jesus através do exemplo de S. José.
III) As suas escolhas apostólicas que devem ser refletidas, meditadas novamente, e reentendidas à luz deste modelo que ele  tinha colocado  para si (O Michelerio;  O Convento de S. Chiara com a hospitalidade aos crônicos, o castelo de Frinco como primeiro refúgio, as paróquias sem clero...).
IV) O amor à Igreja como comunidade e instituição.
V) A obediência ao papa, e a sua confiança total no Espírito Santo para deixar a sua pequeníssima Companhia de S. José sem defesa, como criatura ainda recém nascida; a sua saída é  quase um renunciar à paternidade espiritual.
VI) A sua capacidade carismática de comunicar aos outros os projetos de Deus e de  estimulá-los com perseverança  na e para a execução.
VII) A sua capacidade em escolher os discípulos e no aceitar aqueles que o Espírito Santo coloca no seu caminho, mesmo em meios aos fracassos, e aquela de encontrar com eles e para eles, novos caminhos  de ascese e de vida comunitária e  atividade apostólica.
VIII) O fato que Dom Marello e os primeiros discípulos se tornem  “SINAIS DE DEUS” na cidade de Asti,”fim de oitocentos” com a caridade para com os pobres e os excluídos da burguesia daquele século.
IX) O fato que os primeiros Oblatos, mesmo no meio de erros e de dificuldades incríveis, tenham vivido o “CARISMA” do Fundador na pobreza autêntica, no silêncio humilde e confiante, e  por isso façam emergir da modesta crônica cotidiana um novo modelo carismático de viver os Conselhos Evangélicos.
X) Por isso a distância de um século podemos constatar que neles o Espírito Santo tenha inspirado um modo extraordinário (ainda que não milagreiro, como muitas vezes esperamos) porque não era no espírito de S. José (que nunca implorou intervenções prodigiosas para acompanhar Jesus a Belém, Egito, Jerusalém, Nazaré) E São José foi para eles discípulos, segundo o ensinamento e exemplo do Marello o MODELO: 
I) DE CONTEMPLAÇÃO;
II) DE ESCUTA DA PALAVRA;
III) DE DOCILIDADE AO ESPÍRITO SANTO;
IV) DE TRABALHO HUMILDE, ESCONDIDO, DESINTERESSADO;
V) DE SERVIÇO A MARIA E A JESUS NA POBREZA;
VI) DE COMUNHÃO NA FAMÍLIA E NA SINAGOGA (para José e Jesus - notemos o fato que Jesus de Nazaré na Sinagoga era conhecido como filho de José);
VII) DE COMUNHÃO COM A IGREJA UNIVERSAL E LOCAL (para Dom Marello e os filhos) mesmo quando isto queria dizer renunciar aos próprios interesses ou progressos, julgados com parâmetros humanos e terrenos.
Destas observações sobre a vida dos Primeiros Padres, deve brotar o estilo josefino da vida interior e do apostolado na frase: ” CARTUXOS  EM CASA E APÓSTOLOS FORA DE CASA”.
Me parece de entender que o Fundador queria filhos capazes de profundo silêncio e alegria interior, de oração contemplativa, de atenção à voz do Espírito Santo: “sejamos então fiéis a Deus na oração e  fiquemos com muita atenção e em profundo silêncio para escutar aquela voz divina e arcana que não se escuta no tumulto e confusão” (224). Quem não se deixa contaminar nem  poluir pelo lixo do mundo: ”APÓSTOLOS FORA DE CASA” ou seja, testemunhas viventes de Cristo vivo, capazes de enfrentar o mundo sem se deixar arrastar ou derrotar. Jesus disse a São Pedro para jogar as redes. Pedro obedeceu e as retirou cheias de peixe. Devemos aprender com isto, a humildade e  desconfiança de nós juntamente com a obediência e a confiança em Deus.
Deus quer fazer milagres: mas precisa que nós na sua palavra joguemos as redes, ou seja  façamos pelo que diz respeito a nós, todos aqueles pequenos sacrifícios que  ele nos pede. Sob a ação do Espírito Santo, o Marello nos enviou ao mundo; sob a ação do Espírito Santo devemos partir e caminhar. Somente assim seremos Cartuxos e Apóstolos e sob a ação do Espírito Santo poderemos realizar o projeto de Salvação e de santidade que Deus tem sobre a Congregação e sobre nós como pessoas chamadas a fazer parte dela. Quando descobriremos através um humilde discernimento à ação do Espírito Santo, abramo-nos com sinceridade, tornamo-nos disponíveis, como fez o Santo Fundador, louvamos e bendigamos ao Pai que opera em todos, também nas pessoas  mais simples, e até mais em estas que em outras. Fiquemos atentos e não tomemos atitudes de ceticismo  ou de superficialidade perante fatos que não  coincidem com nosso pequenos cálculos. Ficar muito atentos a não apagar o Espírito Santo (1Ts 5,19) e a não afligi-lo (Ef 4,30).
Afligir o Espírito Santo ou, ainda pior apagá-lo, porque não trabalha segundo nosso metro, é erro gravíssimo: significa encher de nosso orgulho o ministério de salvação que Deus Pai nos confiou; significa em última análise, esvaziá-lo de sua potência e torná-lo estéril.

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