EXPERIÊNCIA DE DEUS

EXPERIÊNCIA DE DEUS

Pe. Antonio Geremia, osj


            O Documento Pontifício “Mutuae Relationes”, diz o número 11 “Muitos  são na Igreja os Institutos Religiosos,  diferentes um do outro, segundo uma índole própria; mas cada  um trás a sua própria vocação como dom suscitado pelo Espírito, mediante a obra de homens e mulheres insignes,  e autenticamente aprovado pela sagrada hierarquia. O mesmo carisma dos Fundadores revela-se como  uma experiência do Espírito, transmitida aos próprios discípulos, para ser por eles vivida, guardada, aprofundada e sempre desenvolvida em sintonia com o Corpo de Cristo  em perene crescimento”.
            Por isso, também o nosso Santo Fundador deve ser colocado entre  “Homens insignes”, que fez   “uma experiência do Espírito” e suscitou na Igreja  um “dom do Espírito”.  Qual é esta experiência fundamental vivida por São José Marello?  Ao meu parecer é aquela de Deus Pai, da presença de Deus, da confiança e do abandono Nele.
            Parecerá estranho. Às vezes se pensa e se diz: “O Marello viu a penúria do Clero na Diocese e pensou de colocar ajudantes:“Os irmãos” e no primeiro momento e depois sacerdotes.
            Claro que tem também este motivo na sua fundação, mas não é certamente nem o primeiro, nem o único. O primeiro motivo da nossa fundação é teológico e precisamente a experiência e o amor de Deus vivido pelo Fundador é, como resposta, a sua consagração a ele, o abandono Nele.
            Leiamos novamente alguns testemunhos tomados da “Positio super virtutibus” para a beatificação. Irmão Felipe Navone atesta: “O servo de Deus, amava certamente o Senhor; falava Dele com muita unção...” vivia submetido a santa vontade de Deus e qualquer coisa que acontecesse  nunca perdia a calma e a paz... o Servo de Deus era homem de oração: ouvia freqüentemente na Igreja e quando falava de Deus, deixava transparecer no rosto uma alegria celestial...”.
Pe. Luiz Garberoglio: “o Servo de Deus vivia de uma maneira tal que se percebia que ele vivia sempre à presença de Deus, com a reverência de vida a Majestade  Infinita, e ao mesmo tempo com a simplicidade e com a confiança de um filho amoroso diante de seu Pai”.
Pe. Giacomo Rabino, pároco de Camerano Casasco: “Estava sempre submetido à Divina Vontade... falava de Deus com tanto entusiasmo e com alegria no coração, que transparecia pela expressão do rosto”. Este é o ponto de chegada e o resultado final. Mas na vida do Marello nota-se todo um caminho que o conduziu a esta meta. Um caminho iniciado no Seminário e concluído no dia de sua morte, ao ponto que Pe. Julio Felipe Mantero, secretário de Dom José Borracini, Bispo de Savona, pode descrever-nos os seus últimos três dias de vida desta maneira: “Percebi durante a sua doença preciosas virtudes entre elas: um grande espírito de oração, porque toda vez que se entrava no seu quarto quando estava sozinho, estava em oração...”. Este caminho do Fundador ao meu parecer tem várias etapas. Antes de tudo a escuta da voz de Deus e a absoluta sinceridade perante Ele. São esclarecedoras a este respeito às considerações escritas por ele em 23/2/1868: “Oh Senhor, tu nos falaste e nós não seremos surdos a teu chamado... Oh Senhor, à tua presença prometemos de executar aquilo que escrevemos de comum acordo”.
Hoje se ouvimos a sua voz não queiramos endurecer os nossos corações... Deus me ensina a maneira de renovar-me a qualquer momento.
“Nunc coepi. Sim, o Senhor, também na última hora o operário pode tornar-se digno do seu salário. Nunc coepi. Ainda tenho tempo”.(E 31) Nesta página  podemos ressaltar duas coisas: Deus que chama e o Marello que responde. Sabemos pela Teologia que Deus opera hoje, isto é opera continuamente e conhecemos a força teológica  do Hoje de Deus, feita própria por Jesus, sobretudo,  no Evangelho de Lucas:
“Hoje nasceu um Salvador...” (Lc 2,11);
“Hoje se realizou esta Escritura...” (Lc 4,21); 
“Hoje a salvação entrou nesta casa...” (Lc 19,9); 
“Hoje estarás comigo no Paraíso...” (Lc 23,43).
Ao hoje de Deus Jesus responde com o seu “Sim, Pai”; Maria responde com o seu “Fiat: seja feita em mima tua Palavra”, e o Marello?
O Marello responde com o seu “nunc coepi: Agora começo”, que repete ao infinito, justamente para indicar qual era a sua atitude habitual perante Deus.
As citações poderiam prolongar-se bastante, porque o tema da escuta e da resposta pronta e generosa recorre continuamente. Bastarão algumas.
“Nunc coepi, eu vos escutarei sempre; Nunc coepi: deixarei de lado o uniforme da minha falta de dever. Agora começo: por-me-ei na estrada do Céu sob as inspirações que de lá, me fareis resplandecer”(E 19)
“Escutemos a voz de Deus: um bom propósito somente, fecundado, estudado, aprofundado, lembrado sempre vale o bem de toda a vida”.(E 35)
“Recolhimento: acostumar-se logo a viver na presença de Deus, estar diante Dele por todo tempo dedicado à oração”(E 25).
Daqui aparece à preciosidade do momento entre (do nunc), justamente porque capta a graça de Deus: “Coragem então. A nossa salvação pode acontecer a qualquer momento. Não desprezemos o momento. Que grande valor tem o momento! Nele se comete o pecado e se reconquista a graça, nele se realiza o julgamento da nossa sorte eterna. Ó Deus dai-me este momento, que seja o primeiro elo da corrente que deve me conduzir a Vós. Ah, sim, Vós podeis dar-me neste mesmo instante”. (E 19)
E das cartas: Renovemos o espírito a cada hora e repousemos na misericórdia de Deus, que absorve todas as fraquezas da nossa natureza doentia. (C 19).
Recomecemos, recomecemos de verdade. Invoquemos o Espírito Santo para que nos ilumine e caminhemos na presença de Deus com simplicidade da criancinha que se diverte à vontade diante dos olhares da mãe.Aceitemos as consolações e as dores que nos envia Deus com espírito de total aceitação de sua vontade (C 23)
“Basta o bom desejo renovado cada instante diante de Deus, traduzido na prática da obediência  à sua vontade” (C  24).
“Conformidade total com a vontade de Deus: este o grande meio para progredir no caminho da perfeição” (C 52)
Por isso, o Marello na juventude colocava todo o seu caminho espiritual sobre a proteção de Deus: o início, o final  e o percurso: “Deus que é caminho, verdade e vida estará Ele mesmo  no início do nosso caminho, nos ensinará  o jeito de percorrê-lo  e  nos acompanhará no céu”. (E 29).
Marello tinha de Deus um conceito muito grande. Basta reler a carta nº 88, onde, além  de indicar-nos qual seja o único nosso trabalho aqui na terra: unir a nossa vontade aquela de Deus; além  de repetir o “nunc coepi”;  nos dá uma pincelada belíssima sobre Deus, a sua misericórdia, a sua bondade: “Olha o passado como o olhavam os santos com sentimento de pesar misto a complacência que Deus  tenha uma possibilidade  muito grande para exercitar a sua misericórdia. Pensa  no futuro com simplicidade e com o único desejo de seguir a voz de Deus;  de Deus que é muito diferente dos homens, de Deus cuja bondade não chegaremos jamais a conhecer plenamente, de Deus que diz in charitate perpétua dilexit te (te amei com amor eterno) Por isto, o mais possível, repitamos este “nunc coepi”  com toda a fé e também esforcemo-nos em crescer no amor “(C 88).
Portanto quando o Oblato de São José lê na L.G. nº 44: “Com os votos...  com os quais o fiel se obriga à observância dos 3 Conselhos evangélicos,  ele se doa totalmente a Deus sumamente amado”  (texto que encontramos também nas Constituições nº 5), e quando lê na P.C. nº 6:  “Aqueles que fazem  a profissão dos conselhos evangélicos, antes de tudo procurem e  amem a Deus que primeiro nos amou”, e quando no CDC a. 573 lê: “... os fiéis se doam totalmente a Deus amado acima de todas as coisas”  não deve fazer outra coisa que alegrar-se e pensar que, em tal modo, além  de obedecer à Igreja e  estar plenamente inserido na mesma,  se encontra   também  no mais genuíno espírito do Fundador.

Artigo publicado em L” Oblato”,  1/2/1986
Tradução pe. Mario Guinzoni, osj

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