JOSÉ MARELLO, MODESTO E HUMILDE

JOSÉ MARELLO, MODESTO E HUMILDE


Mario Belingero


Quem, mesmo que por pouco, percorre a vida de São José Marello, vê brilhar nele uma profunda humildade e uma sublime modéstia.
Na sua vida a humildade ocupava um lugar fundamental no verdadeiro sentido da palavra, porque estava no fundamento da sua contínua procura e submissão à Vontade de Deus, e à com­pleta abertura e colaboração à ação e à graça de Deus.

Deste seu constante agir interior nós sentimos o eco nes­tas palavras tiradas de duas cartas da sua juventude:
"Não nos amedronte o pensamento da nossa pequenez; essa deve ser, antes, argumento de maior confiança naquele que é o suplemento a tudo e a todos" (C.8).
"Renovemos o espírito a cada momento e repousemos na misericórdia do Senhor, que absorve todas as fraquezas da nos­sa natureza doentia" (C.19).
Sobretudo o vemos impregnado nestas exortações:
"Humilhemo-nos de coração, e estejamos certos que so­mente na força da humildade brilharão em nós as virtudes teologais da fé, esperança e caridade, como também todas as outras virtudes, pois de todas a humildade é o fundamento. Convençamo-nos que somos verdadeiros nada; coloquemo-nos simplesmente no nosso lugar. Ao mesmo tempo ergamo-nos sobre as asas da confiança, pensando que deste nada Deus pode e quer tirar um grande bem, unindo-nos intimamente a Si mes­mo" (E.E.264).
Persuasão esta que, quando jovem, tinha exprimido assim:
 potencialidade do homem é indefinida: tudo está no va­lor do coeficiente ... e Deus nos nosso corações é um coeficiente infinito! E nós, pobres cifras do nada, podemo-nos multiplicar gradativamente até a altura das cifras infinitas".
Em muitas ocasiões a humildade do Marello pôde manifes­tar-se. Não ambicionava em nenhum caso dignidades eclesiásti­cas, honras e reconhecimento. Era demasiado contrário ao mos­trar-se e ao querer aparecer. Ao contrário, a sua humildade o im­pulsionava a retirar-se e ocultar-se.
Um grande exemplo temos por ocasião dos primeiros pas­sos de sua Congregação. Ainda que ele a tivesse instituído por inspiração do Senhor, jamais se colocava diante dos estranhos como fundador e superior. Como no início os irmãos de São José moravam e prestavam serviço à Obra Pia Michelerio, da qual era diretor o Cônego Cerruti, o Marello, de boa vontade, permitiu que este aparecesse aos cidadãos de Asti como fundador e superior da congregação nascente.

Também Dom Ronco, bispo de Asti, no início do seu minis­tério, estava por cair nesse erro, embora suspeitasse que o fun­dador fosse o Marello. Um dia, tendo encontrado na cúria o Irmão Medico, que estava falando com o Marello, lhe fez a pergunta:
"Diga-me: quem é o teu Superior? O Cônego Cerruti ou o Cône­go Marel/o?". O Irmão Medico ficou pensativo, olhou o Padre, que estava com os olhos baixos na espera de não sei qual res­posta e depois modestamente disse: "O nosso primeiro superior é Vossa Excelência, e depois vem o Cônego Marel/o". "Está bem - acrescentou o bispo -; queria dizer que deveria mesmo ser o Cônego Marel/o" (Dom Cortona, Breves Memórias, p.41).

A sua vida humilde nascia certamente da sua profunda con­vicção que, entre outras, se pode encontrar nesta sua exortação:
"Não nos elevemos acima de nós mesmos, nem ocupe­mos outro lugar do que aquele que nos é devido. Proponhamo­nos de ser sempre humildes em todos os nossos atos e em to­dos os momentos da nossa vida, recordando-nos que temos ne­cessidade de tudo e de todos e que somos, aos outros, mais de peso do que de alívio e utilidade" (E.E.259).

A sua humildade caminhava lado a lado com a sua modés­tia. "É grande fortuna não ter aqueles grandes dons que tiveram outras pessoas - exortava -. O Senhor deu a cada um aquilo que Ihes ocorria e Ihes era conveniente. Por isto, cada um deve com­portar-se modestamente".
Tudo quanto recomendava aos outros, o colocava em prá­tica ele mesmo por primeiro. Era sempre atento em colher todas as pequenas ocasiões para admirar nos outros os dons de Deus e mantendo, ao invés, na maior modéstia a si mesmo.

O Sumário que recolheu os depoimentos sobre sua vida e suas virtudes para o processo de sua canonização, reporta mui­tas testemunhanças a respeito:

"Não falava nunca de si mesmo e colocava em vista os outros. Tratava com toda benevolência os subalternos" (Ir. Benedetto Coppo, Sommario, par.430).
"Da longa convivência que tive com o Servo de Deus, pude sempre admirar a sua humildade, modéstia, amor ao estar ocul­to, a sua mansidão e especialmente a sua caridade" (Cortona, ib., par.680).
"O Marello era humilde e modesto, foi sempre corretíssimo no julgar e falar do seu próximo. A sua vida foi um incansável exercício de santas virtudes. E todo este tesouro, escondido sob o invólucro da mais sincera humildade" (D.Ronco, Bispo de Asti, ib., par.860).

O Marello desejava permanecer escondido aos olhos dos homens, mas foi grande aos olhos de Deus e a sua riqueza inte­rior, a sua santidade, brilhou como luz que não passou desperce­bida aos olhos de quem o encontrou e o conheceu. Também aos jovens, e isto o demonstra o seguinte fato: O Pe. Carpignano in­forma que na visita pastoral que o Bispo Dom Savio fez à paró­quia de Soglio, o Marello o acompanhava como seu secretário.
"Os jovens daquela cidade ficaram tocados pela sua angélica modéstia sorridente. 'Vejam que belo ar tem aquele sacerdote! ­Diziam do secretário José Marello os jovens - Sim, parece São Luís! Vou confessar-me com ele. Penso que será bom!"'.
Assim, desde então, Pe. José se apresentava no seu as­pecto característico de bondade, simplicidade, modéstia e toca­va os fiéis.

Mais tarde, como bispo, as pessoas vendo-o passar, per­maneciam boquiabertas e diziam: "Parece o Senhor!". Tinha real­mente aprendido Daquele que se definiu como "manso e humilde de coração" e o tornava presente, para o bem de todos.

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