SÃO JOSÉ, GUIA SEGURO

Pe. Antonio Geremia, osj
Este mês de março, dedicado à honra de São José, nos oferece a ocasião, mais uma vez, de falar da devoção que tinha José Marello por este Santo, a ponto de confiar completamente a si própria e toda a família josefina a ele, com uma expressão que é verdadeiro ato de consagração: "Diremos ao nosso grande Patriarca: Eis-nos todos para ti, e tu sejas todo para nós; indica­nos, ó José, o caminho, sustenta-nos a cada passo, conduz-nos para onde a Divina Providência quer que cheguemos" (Carta 209).
O que chama a atenção nestas linhas, além desta "entrega total", é o conceito de "guia".
O Marello concebia a vida espiritual como um caminho, um contínuo andar e crescer para realizar aquele "desenho espiritual que o Senhor traçou a nosso respeito" (Escr. p. 274). Para o Marello, o guia por excelência é o Espírito Santo, ao qual ele se submete com docilidade extrema. Mas, com o Espírito Santo, está Maria e José.
José compenetra toda a sua vida espiritual, os seus pensa­mentos, as suas atividades, o seu estilo de vida.
José é o motivo inspirador de tudo: "Cada um tome as pró­prias inspirações de seu modelo São José ... " (Carta 76). José é o guia seguro, mas em quê?
Antes de tudo, nas "relações íntimas com o Verbo Divino". A carta nQ 35 é reveladora ao máximo.
          Escrevendo em 1869 ao amigo Pe. José Riccio, vice-páro­co em Castiglione d' Asti, por ocasião do onomástico, eleva esta oração: "ó glorioso Patriarca São José, não te esqueças de nós. Tu, que depois da Virgem Bendita, apertaste por primeiro ao peito a Jesus Redentor, sê o nosso modelo em nosso ministério, que, como o teu, é ministério de relação íntima com o Verbo Divino. Tu, ensina-nos, assiste-nos, torna-nos dignos membros da Sa­grada Família" (Carta 35). Esta é a verdade mais profunda sobre São José, que constitui a sua verdadeira grandeza; a sua relação íntima com Jesus, Filho de Deus, Adorador do Pai, Salvador dos homens. Relação que é comunhão de vida, co-divisão de inte­resses, troca de afetos, serviço de amor com tendência à unida­de. Não se meditará jamais o bastante a grandeza do coração de José, preparado pelo Pai para poder acolher a "Palavra feita car­ne", nem se meditará o bastante a disponibilidade de José, sem­pre pronto aos gestos do Altíssimo, junto de Maria que é o "fiat" de Deus, e junto de Jesus que é o "amém" do Pai. José Marello nos convida a considerar esta correlação como "relação íntima", a entrar nela, a vivê-Ia. E não é pouco!
Esta santidade de José não o isola da história da salvação, antes o insere ainda mais profunda e realisticamente. "Ele (José) foi o primeiro a cuidar dos interesses de Jesus ... ele no-Ia guar­dou criança, protegeu-o menino, fez-lhe o papel de pai nos pri­meiros trinta anos de sua vida aqui na terra ... " (Carta 76).
Aqui está delineada a atividade de José, sustentada unica­mente no “tomar conta" da Pessoa do Verbo, noite e dia, nas várias fases da vida: bebê, menino, jovem. José é o primeiro, depois Maria, a velar sobre o bebê, a protegê-Io, humanamente, à sua missão. E da casa de José, da sua oficina sairá o Salvador do mundo.
E também isto não é pouco para nós todos, se pensarmos que Cristo está no meio de nós, hoje, nos pobres, nos doentes... na Igreja inteira. José Marello, neste mês de março, nos convida a "tomarmos conta" de cada irmão, de cada necessitado. Impor­tante é olhar ao redor de si para "cuidar dos interesses de Jesus", como fez São José.
E tudo isso com a maior confiança e esperança. "Deus encha os nossos corações daquela confiança que regia o nosso Santo Patriarca em todos os passos da sua vida" (Carta 159). A confiança e a esperança de José!
Colocada entre o Antigo e o Novo Testamento, herdeiro de todas as promessas feitas ao seu povo e à sua casa em particu­lar (a de Davi), mergulha sem cálculos e sem reservas no misté­rio que Deus lhe propõe e acolhe Maria em sua vida, e com ela inicia aquela "peregrinação da fé" que cresce dia-após-dia com a confiança de que Deus cumprirá as suas promessas.
Com Maria, acolhe em seu coração e em sua casa Jesus, a semente da Vida Nova, tornando-se ele próprio criatura nova, o amigo privilegiado do Pai, o homem do Espírito Santo, o contemplativo dos mistérios de Deus.
Cada passo seu é dirigido pela esperança. Na pobreza de Belém e na apresentação no templo, na fuga para o Egito e no retorno, na perda de Jesus e na vida de trabalho em Nazaré, como no desaparecimento silencioso do cenário do mundo terrestre, ele permanece como o homem que olha confiante o futuro com a certeza de que o Salvador nasceu, está no meio dos homens e tudo "será cumprido".
Ainda sobre esta pista de confiança inabalável na Providên­cia, de esperança adulta e perseverante, nos indica o Marello, neste março, fazendo dizer de São José: "Ele (São José) repete sempre aos seus filhos: no silêncio e na esperança está a vossa fortaleza" (Carta 211).


Artigo publicado em JOSEPH, nº 03, mar./1988, p.14.
Tradução Pe. Roberto Agostinho, osj