O SENTIDO DA ALEGRIA NO MARELLO

Ano Marelliano
Artigo da Semana

O SENTIDO DA ALEGRIA NO MARELLO

Pe. Alberto Antonio Santiago, osj

O que entendia o Santo Fundador ao insistir sobre a ALEGRIA nos conselhos e máximas dirigidos aos seus amigos, súditos e filhos espirituais? Tentaremos responder à pergunta analisando seus escritos indicados respectivamente: pela letra "S" Scritti e insegnamenti, e pela letra "L" Lettere, aquela seguida pelo número das páginas, e esta pelo das cartas.

Significado dos termos usados pelo Fundador para exprimir a alegria tal como a entendia ele.


Dentre as várias palavras de que se serve a língua italiana para expressar o estado, o sentimento, a graduação e os efeitos da alegria, são mais freqüentes nos escritos de nosso Fundador as seguintes:

a-) Allegrezza - é um sentimento e, portanto, interior. Pode­se imaginá-Ia também muda e solitária. Nos escritos de Dom Marello aparece esta palavra seguida muitas vezes dos adjetivos: santa, sensível, do coração.

b-) Letizia - é voz usada mais no verso que na prosa. Denota mais ou menos o mesmo sentido que allegrezza, mas de maneira mais comedida. O Fundador a emprega seguida dos adjetivos: espiritual, pura, santa, cristã. O adjetivo lieto está a indicar aquele que sente a letizia.

c-) Gioia - é mais viva do que a letizia e a allegrezza, compreendendo o que estas têm de mais intenso. O Marello a emprega muitas vezes, e no singular e no plural. Também seguida do adjetivo "terrena".
d-) Allegria - é a demonstração da allegrezza, é um estado, uma tendência e, portanto, é exterior, rumorosa, ama a companhia e pode ser fingida. O Marello usa este vocábulo também seguido do adjetivo "mundana"; e distingüe ente lieto e allegro.


Correspondência em português dos termos usados pelo Fundador para exprimir a verdadeira alegria


a-) Contentamento - é um afeto interior e pertence principalmente ao juízo e à reflexão. Supõe igualdade e sossego de ânimo, tranqüilidade de consciência; conduz à felicidade e sempre a acompanha. Nós a empregaremos para traduzir allegrezza.

b-) Letícia - é corrupção da palavra latina laetitia; encontramos também em português as formas ledice ou lediça. Preferimos a forma letícia por ser ela mais afim da raiz latina e do verbo letificar. A letícia é menos viva, mais suave, tranqüila e serena que a alegria. Nós a empregaremos para traduzir letizia, ao lado do adjetivo Ieda para traduzir lieto.

c-) Regozijo - como está a indicar a partícula reduplicativa re, exprime esta palavra a alegria ou gozo repetido ou prolongado; e porque esta palavra supera em intensidade o contentamento e a letícia, empregá-Ia-emos para traduzir gioia.

d-) Alegria - quando o contentamento se manifesta exteriormente nas ações e palavras, é alegria. Pode uma pessoa estar contente e não alegre; alegre e não contente. Pode fingir-se a alegria porque é demonstração exterior, e pertence à imaginação.

É desigual, buliçosa e até imoderada, quiçá louca, em seus transportes; muitas vezes prescinde da consciência, ou é surda a seus gritos, porque na embriaguez do espírito se deixa arrastar da força do prazer; não é a felicidade, nem a ela conduz, nem a acompanha. Está por aJlegria.


Obs: Todas as definições que demos referem-se ao sentido etimológico e profundo das palavras, tal como o podemos encontrar nos clássico e nos melhores dicionários. Não levamos em consideração o uso vulgar dos termos, por ser ele muito instável, variando muito segundo o tempo e a latitude.


Breve antologia marelliana sobre o tema da letícia cristã e de seus efeitos em nós

1. A verdadeira letícia é espiritual e santa. Provaram-na os personagens bíblicos e os santos. Não pode porém ser ela confundida com a alegria mundana que devemos desprezar. A verdadeira letícia pode coexistir com a cruz e o sacrifício, mas ela nos livra das ilusões e ansiedades de consciência, dando­nos como fruto a simplicidade, a paz do coração e a igualdade de espírito.

"Já Davi nos Salmos, exprime-se em contentamento. Maria, elo entre o Antigo e o Novo Testamento, exulta em Deus seu Salvador”.

Todos os santos provaram o santo contentamento, se bem em alguns deles, este despontasse de modo particular. São Francisco era tão cheio dele que bastava aproximar-se de alguém para comunicar-lho; e dizia: "Tão grande é o bem que eu espero, que toda pena me é gosto". São Fílípe Neri se esforçava especialmente para cultivar a letícia espiritual e a difundia em quantos dele se achegavam; ele tinha por máxima: "Escrúpulos e melancolia, fora da casa minha"; e não podia tolerar que os seus discípulos se mostrassem tristes e melancólicos. O apóstolo São Paulo recomendava aos cristãos de Fílípos: "Gaudete in  Domino semper; iterum dico gaudete: Letificai-vos sempre no Senhor, repito: letificai-vos". Assim dizendo ele aplicava a doutrina mesma de Jesus, o qual chamava bem-aventurados os pobres de espírito, bem-aventurados os mansos, bem-aventurados os que choram, bem-aventurados os que constroem a paz, os famintos e sedentos de justiça, os perseguidos, etc. Jesus disse que estes são e não que serão bem-aventurados, porque Deus os cumula de seu regozijo e de suas consolações mesmo em meio às penas, como teve de reconhecer o mesmo apóstolo, quando disse: "Eu me rogozijo grandemente em meio a todas as minhas tribulações". Assim, se também nós cultivarmos esta letícia espiritual e santa (e não a alegria mundana, que devemos aborrecer) levaremos de bom grado a nossa cruz, amaremos o sacrifício, e cumpriremos melhor todos os nossos deveres em união e por amor a Deus, já que não é verdade que sendo alegres não podemos estar recolhidos.
Esta letícia espiritual é uma grande virtude, aliás, é o meio para praticar as outras virtudes, dado que todas as outras virtudes, como a amabilidade, a paciência, a caridade, a pureza, a mansidão, a doçura, etc., são praticadas mais facilmente e com maior perfeição quando temos no coração esta bela letícia e contentamento espiritual.
Mediante este contentamento será mais fácil evitar os escrúpulos e vencer as tentações; e se pode acontecer que a nossa parte inferior não prove contentamento sensível e se encontre envolvida pelas nuvens da tristeza, a parte superior pode sempre gozar o sereno.
Pessoas há que talvez não demonstrem externamente grandes virtudes; mas se notarmos que conservam esta santa letícia, tenhamo-Io por um bom sinal; porque assim como não pode substituir verdadeira virtude sem este contentamento, assim não pode substituir este contentamento sem verdadeira e sólida virtude. Sem ele, até mesmo a oração poderia se tornar perigosa e degenerar em ilusão.
Quando se possui o santo contentamento, não é fácil cair nas ilusões e nas ansiedades de consciência, enquanto com ele florescem e prosperam de modo todo particular a simplicidade, a paz do coração, a igualdade de espírito" (8.310-311).

2. A letícia cristã, mesmo quando suportamos penas interiores e contratempos, ajuda-nos a manter a serenidade e o ânimo ledo, calmo e tranqüilo. Quando ela nos faltar, haveremos de procurá-Ia na oração, sem jamais ceder à tristeza.

"Por vezes nos prova Deus, em nos mandando uma penas interiores, que muito nos fazem sofrer. Mas não permitamos jamais que em nós predomine a tristeza, porque muito amiúde se serve o demônio dos momentos de abatimento para prejudicar as nossas almas, das quais ele é o inimigo.
Este estado de sofrimento no-lo permite Deus, e a nós não resta que resignar-nos humildemente: nestes casos a verdadeira virtude consiste em manter-nos firmes e seguros ao querer de Deus na parte superior da alma, mesmo quando a parte inferior estiver abatida e triste. Sentir a tristeza não será danoso se nos mantivermos, mesmo nela, sempre fiéis a Deus.
Imitemos São Filipe Néri, São Francisco de Sales, Santa Francisca de Chantal, que suportaram sempre com letícia cristã as tantas penas que tiveram de sofrer. Aprendamos especialmente com Santo Afonso Maria de Liguori. Ele foi tormentado durante muitos anos por terríveis penas e temores interiores; mas no externo mostrava-se tão calmo, ledo e alegre, que todos o acreditavam o homem mais feliz deste mundo.
Humilhemo-nos, sim, mas não seja a nossa humildade que se abata e desencoraje, mas uma humildade profunda e calma, que nos faça inteiramente confiantes em Deus.
Recordemos a frase de São Tiago: "Quando alguém estiver triste, deve rezar". Recorramos também à oração quando nos encontrarmos neste estado de desânimo e de tristeza; somente nela encontraremos auxílio e conforto; e embora não provemos sensivelmente conciliação alguma, perseveremos igualmente na oração, porque o conforto não faltará; e mesmo que o não sintamos, ser-nos-á infuso, todavia, alento, força e coragem para suportar com resignação a prova que Deus nos manda.

“Mantenhamo-nos sempre de ânimo Ieda, calmo e tranqüilo, e sirvamos ao Senhor com aquela fidelidade e serenidade que caracteriza os verdadeiros servos do Senhor" (8.206-207).

3. A igualdade de espírito nos dará a letícia interior, pura e santa. Devemos demonstrá-Ia até exteriormente, apresentando um aspecto doce, jovial, sereno, capaz de contagiar também a outros.


"Fruto da igualdade de espírito é aquela letícia pura e santa do coração, a qual não podem gozar senão aquelas almas que, indiferentes a tudo o que se passa, não se ocupam senão da glória de Deus e já possuem Deus aqui na terra, na paz inalterável de seus corações.


Devemos demonstrar também exteriormente, aquele santo contentamento e aquele letícia espiritual que Deus nos infunde no coração; e isto seja que estejamos sós, seja que em companhia, conservando sempre um aspecto doce, jovial, sereno, que alegre também os outros; de tal modo procuraremos a felicidade nossa e daqueles com os quais devemos viver, e poderemos ao mesmo tempo avançar a largos passos na perfeição" (8. 238).

4. Igualdade de Espírito sempre. Precisamos combater a tristeza e a inquietude. Tendo a Deus como o nosso único amor, poderemos chegar a um perfeito equilíbrio emocional.

"Devemos banir de nós tudo aquilo que pode perturbar a nossa paz.
A tristeza é inimiga do bem.
Indício e sinal da paixão dominante é a inquietude e a tristeza que se apodera de nós quando ela é magoada.
Fazer todas as coisas, espirituais ou materiais que sejam, com tranqüilidade e não com impetuosidade.
Igualdade de Espírito: nem muito alegres, nem muito tristes; igualdade do semblante: nem severidade, nem familiaridade demais; igualdade nas orações: nem pressa, nem lentidão em demasia.
Igualdade no semblante: jamais uma ruga na fronte.

Igualdade de espírito sempre, e não uma vez sim e outra vez não.
Igualdade, firmeza, indulgência, que eram as virtudes características de São Francisco de Sales: se não é nada, ceder; se é mal, resistir corajosamente.
Pensar que o outro não nos ama é tentação e aflição de espírito: se nos ama o Senhor, sejamos felizes.
Fazer de conta que existem somente Jesus e a minha alma" (8. 197).


5. Peçamos e Maria e a José que nos dêem a letícia espiritual, e mantenhamo-nos calmos e serenos deixando o futuro nas mãos de Deus. Na tristeza, rezemos.
"Procuremos sempre ser ledos e alegres em toda circunstância e tenhamos sempre presentes as palavras da Sagrada Escritura: "Servite Domino in laetitia". Voltemo-nos também para a Virgem Ssma. e digamo-lhe: 'Não é por nada que és chamada Causa nostrae laetitiae, causa do nosso contentamento. Faze, então, despontar em nosso coração aquela flor da letícia cristã, que nos alente a carregar alegremente as nossas cruzes e que nos inflame sempre mais do santo amor de Deus'. Esta oração, dirijamo-Ia também ao glorioso São José.
Procuremos, então, adquirir muita calma, doçura e serenidade, e de amontoar um grande acúmulo de obras boas no estado presente; no porvir pensará Deus" (8.208).
"Peçamos a Maria Ssma. aquele contentamento que vem da tranqüilidade de consciência e da paz do coração, e para isto dirija-lhe amiúde a bela invocação: causa nostrae laetitiae.
O coração de Maria é o reverbero do coração de Jesus" (8. 184).
"Dirijamo-nos a Maria Ssma. Consoladora, a fim de que nos queira consolar nas nossas aflições.

Não peçamos consolações terrenas, que passam com o tempo, mas consolações celestes, que durem por toda a etemidade.

Procure sempre a perfeição em todas as coisas, mesmo nas mais pequeninas, e seja dócil às inspirações do Espírito Santo, deixando-se conduzir por ele em todas as circunstâncias. Diga ao Senhor: "Eu sou toda vossa, e não desejo senão que se cumpra a vossa santa vontade, mesmo que custe sacrifícios, mesmo privada de consolações, mesmo cheia de aflições; estou pronta para tudo, ó Senhor, fazei de mim o que quiserdes".
Como lembrança espiritual deixo-Ihes as palavras que São Paulo me sugere neste momento: Gaudete, semper gaudete:

Gozai sempre de uma pura e santa letícia, letificai-vos no Senhor. Conserve-se sempre serena e contente em todas as coisas, sejam prósperas ou adversas: saiba manter-se nesta igualdade de espírito que é de tanta vantagem na vida espiritual, e conservar­se sempre numa disposição de ânimo tal, que a encontre pronta a tudo sem jamais perturbar-se. Ver todas as coisas à luz da fé, fazer com que prevaleça sempre a razão sobre o coração e a vontade de Deus sobre a razão, aceitar tudo das mãos de Deus com amor e reconhecimento, tanto as coisas que alegram, como aquelas que nos repugnam, e responder sempre com um Deo Gratias! Que se não podemos pronunciar com a boca, poderemos sempre pronunciar com o coração.
Não precisa ter tanta solicitude pelo amanhã, mas quanto a isto, estar tranqüilos nas mãos de Deus, que não nos deixará faltar nada: a cada dia basta a sua pena. E se também Deus nos deixar sem consolações não nos devemos entristecer demais, mas continuar a rezar e a esperar, inclinando humilde a fronte e ledo o coração à divina vontade: em suma, conservar-se sempre com uma igualdade de espírito e uma disposição de coração tais, que tornem a alma como uma cera mole nas mãos de Deus, de forma que ele possa cumprir livremente todos os seus desígnios.

E com este meio, poderá salvaguardar todas as virtudes" (8.237).

Recordemos as palavras de S. Tiago: 'Na tristeza, reza'. Acontece, por vezes, que a nossa alma se encontra como que sufocada por esta tristeza, que quereria impossessar-se totalmente de nós. Quando está para formar-se o furacão, não existe a princípio mais que raros vapores vagantes aqui e acolá sem dar nem sombra de suspeita, tanto que ninguém nem mesmo os percebe; entretanto, porém, a atmosfera se faz mais pesada, sente-se um mormaço sufocante: pouco a pouco este vapores se unem, condensam-se e formam nuvens escuras, que de repente cobrem todo o céu, sem deixar mais um palmo de sereno: a obscuridade vai aumentando sempre mais, até que de repente, desaba a tempestade com grande fragor, trazendo imensos danos e prejuízos. Assim pode acontecer no nosso coração, quando se encontra sob a pressão destes pensamentos tristes. Mas, coragem: Temos um meio seguro com o qual podemos trazer de volta o belo sereno de antes, e este meio é a oração, a única que pode dispersar e dissipar estas nuvens ameaçadoras e, junto ao sereno, fazer resplandecer sobre as nossas almas os raios do sol divino, que é Jesus.
Em tal momento, aumentemos os atos de fé, de amor, de confiança, de humildade e sobretudo recomendemo-nos ao Espírito Santo e à Virgem Ssma., para que venham em nosso socorro, iluminem com sua luz os nossos passos e sustentem a nossa debilidade.
Certamente no contentamento do coração e na santa letícia fazemos as coisas sempre melhor: rezamos com maior fervor, trabalhamos com mais alacridade e zelo, somos mais atenciosos ao cumprimento dos nossos deveres e se torna mais fácil a união com Deus" (S. 227).
"Sobretudo quando somos tomados por estes sentimentos de desgosto, de desconfiança, de aversão e de despeito, cuidemos de não nos deixar dominar pela tristeza, que é sempre fatal e nociva, mas reconciliemo-nos logo com Deus e com o próximo, colocando na paz o nosso coração.
Naturalmente, sentimos grande vergonha por causa das nossas falhas, e, depois de alguma queda, quase não ousamos mais voltar-nos para Deus; mas animemo-nos! Deus é tão bom!

“Aquele Jesus, que esquecendo as ofensas dos apóstolos trouxe­-Ihes a paz após a ressurreição, aquela paz celeste que letifica os ânimos e os enche de santos afetos, trará a sua paz também ao nosso coração humilhado e aflito" (8.205).

"Estejamos contentes até de não estar contentes, basta que o Senhor esteja contente”.
Os livros espirituais, devemos lê-Ios como cartas que vêm do paraíso, isto é, com grande atenção e veneração.

“A São Francisco de Sales peçamos a igualdade de espírito em tudo" (8. 182).
"São Filipe, dá-me a letícia espiritual; ó Espírito Santo, concede-me a letícia espiritual, como a deste a São Filipe, e seja uma letícia que proceda da humildade e da simplicidade, como aquela de São Filipe, que queria nos seus filhos a santa letícia, mas acompanhada de humildade e simplicidade" (8. 190).

6. Também a alegria pode nos ajudar a atingir a verdadeira letícia.


"Notícias de mau gosto há sempre e em abundância, mas poucas as de bom gosto e quase diria na razão inversa daquelas. Portanto, paremos por aqui desejando poder suportar com resignação os males e acontentar-nos daquela escassa medida de bem que o Senhor nos deixa nestes míseros tempos. Oremos ad invicem e vivamos alegres para adequar-nos àquele preceito: Servite Domino in laetitia" (L. 72).

"O coração se abre ao regozijo revendo os nossos caros parentes com saúde, a casa paterna, a nossa cela particular, e aqueles mil objetos que suscitam no coração tantas belas lembranças das férias que se passaram. Em meio a todas estas reflorescentes memórias, era-me doce recordar a ti e aos outros caros amigos - supor-vos ao meu lado antecipando com o desejo o tempo em que teria eu realmente podido gozar este prazer. Uma coisa que nos outros anos, era-me objeto de tristeza ou de indiferença, este ano durante o encontro me foi de não pouca consolação: o fato de estar, normalmente, do lado da consciência. Assim é: quando em meio aos regozijos terrenos podemos fazer resplandecer também um raio dos contentamentos que provêm do céu, oh! então o nosso coração fica mais satisfeito e a nossa felicidade é mais completa" (L. 3).


7. As tristezas nos vêm quando temos o coração apegado às coisas terrenas, de modo que Deus não se pode aproximar de nós.
"Quando estamos longe de Deus, nada pode preencher o nosso coração e, se por um momento os nossos desejos parecem satisfeitos, è exatamente então que se nos está iminente alguma grande ocasião de tristeza" (S. 37).

"Santo Agostinho andava esmolando das criaturas um pouco de regozijo e de felicidade; mas quando foi iluminado por Deus soube que o nosso coração foi feito para o Senhor, e que somente Ele o pode acontecer. Ó Senhor, ilumina-me naqueles lados do meu espírito que são ainda tenebrosos: Domine, ut videam: Senhor, faz com que eu veja. Faze-me conhecer, ó Senhor, aquilo que ainda me falta para o meu aperfeiçoamento" (S. 294).


8. Jamais devemos ceder à ira. Nosso sacrifício em dominar esta paixão será recompensado pelo Senhor com a letícia espiritual.
"Mansidão e doçura, e então será a paz”.

O Senhor retribui os nossos sacrifícios e por aquele momento de violência que nos teremos feito, dar-nos-á uns dias e até uma semanas de paz e letícia espiritual.

A ira é como um pingo de veneno, que infecta todo o sangue; é como uma faísca, que provoca um grande incêndio: procuremos neutralizar logo os seus tristes efeitos.

Enamoremo-nos da virtude da mansidão" (S. 302).


9. Nem mesmo as quedas nos devem perturbar.

"Somos pecadores, mas consolemo-nos: Jesus veio para os pecadores e não para os justos, para os doentes e não para os sãos”.
É preciso que estejamos santamente ledos, contentes com tudo, até com nossas recaídas, já que elas nos fazem humilhar.
a Senhor já nos concedeu mais benefícios que os cabelos que temos na cabeça" (S. 196).


10. O Santo Fundador queria os seus filhos ledos daquela verdadeira e santa letícia espiritual.

"Folgo em que a letícia espiritual floresça entre os Sacerdotes de São José" (L. 168).


Em conclusão ...

Quando afirmamos que o Fundador nos recomendava a alegria, precisamos acrescentar de que tipo de alegria se trate. Em primeiro lugar, o Marello experimentou e quis transmitir a seus filhos espirituais a alegria que é santa e pura, espiritual e interior. Pode ela extravasar-se também exteriormente, desde que seja fruto de uma realidade interior.
Este tipo de alegria, o mundo desconhece, porque ela não se confunde com a indisciplina, a agitação, o barulho, a fuga da realidade da vida, mas é sobretudo um dom de Deus, um fruto do Espírito Santo para aqueles que cooperam com Deus através da oração, da ascese, do filial abandono à Sua vontade. Basta observar como a experimentou o santo Marello, tendo um sentimento profundo da amizade, cultivando a devoção a Jesus Sacramentado, a Maria Ssma. e a São José, sendo disponível a qualquer serviço e sempre extraordinário nas coisas ordinárias, demonstrando ao lado da jovialidade o amor à oração, às almas e à Igreja, e a procura sem tréguas da humildade e do equilíbrio interior.
Oxalá nos faça o Fundador implorar, desejar e experimentar a alegria autenticamente josefina, mesmo em meio a tantos contratempos.



Bibliografia
1. "Lettere" dei Venerabile Giuseppe Marello, a cura do P. Mario Pasetti, osj.
2. "Scritti e Insegnamenti" dei Venerabile Giuseppe Marello, a cura do P. Maio Pasetti, osj.
3. "La Via della Perfezione" alia scuola dei Ven. Giuseppe Marello, Saco Angelo Rainero, osj.
4. Nuovo Dizionario de Sinonimi della Lingua Italiana. Niccolà Tommaseo, 1898.
5. Dicionário dos Sinónimos da Língua Portuguesa, J.1. Roquete e José da Fonseca.


Artigo publicado em "José, o Justo", Jul.l1988, pp. 21-39.

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